“Agnes Grey é um romance escrito por Anne Brontë. Publicado em 1850, a trama ultrapassa a Era Vitoriana com sua temática realista.
A obra narra a trajetória de Agnes, preceptora de famílias da classe aristocrática inglesa, suas lutas, questionamentos e claro, sua relação com o amor.
A história é considerada autobiográfica por reportar muitas das vivências da autora, que trabalhou como governanta por alguns anos de sua vida. Leitura imperdível para os apaixonados pelas irmãs Brontë, este clássico é aclamado até hoje.”
Editora: Pé da Letra
Autora: Anne Brontë
Ano da 1ª publicação: 1847
Ano desta edição: 2022
Gênero: Romance
Páginas: 237
O livro é narrado pela personagem título - Agnes Grey - e ela começa a história contando um pouco sobre o romance dos pais. A mãe dela era uma jovem vinda de uma família rica, enquanto o pai dela era um pobre pároco sem recursos. A família da jovem era totalmente contra o casamento dos dois, porém não conseguiram persuadir a moça a mudar de ideia.
Ao se casar com o pároco, a jovem foi deserdada e excluída de sua família. Não que ela se importasse, muito pelo contrário, diversas vezes no decorrer da narrativa a mãe de Agnes se orgulha dos anos vividos ao lado do marido. Apesar das poucas condições que tinham, o pai só queria dar tudo do bom e do melhor para a esposa e as filhas, Mary e Agnes. Essas ambições fez com que ele ignorasse os conselhos de economia da esposa e acumulasse diversas dívidas. Essa situação econômica complicada da família o levou a diversas preocupações e, por consequência, uma deterioração da saúde. As mulheres precisariam então encontrar alguma forma de ajudar a quitar essas dívidas imensas.
Mary, uma artista nata, segue os conselhos da mãe e decide pintar quadros e vendê-los. A Sra. Grey realiza economias na casa como forma de poupar o que tinham e sanar as dívidas com o que sobrasse. Já Agnes, querendo sair de sua zona de conforto e da proteção da família para desbravar o mundo, decide se tornar preceptora - algo como uma professora particular que ensinava tudo aquilo que um filho ou uma filha de uma família aristocrática precisaria para frequentar a sociedade.
Agnes era a filha mais nova, por isso, super protegida pelos pais e pela irmã, Mary. Ela nunca havia feito nada sozinha na vida, por isso, ao iniciar essa nova etapa de sua vida, encontra-se cheia de expectativas que são quebradas ao chegar na casa da família para quem ela irá trabalhar: os Bloomfields.
Essa família tinha 4 filhos: Tom - um menino malcriado -; Mary Ann - uma menina levada -; Fanny - que seguia os passos da irmã - e Harriet - com quem Agnes não teve contato por ainda estar sob os cuidados da babá. Durante o seu tempo tentando educar essas crianças, Agnes sofre muito para conseguir realizar seu trabalho já que elas são completamente sem limites, com um pai extremamente rígido e, por vezes, abusivo e uma mãe que passa a mão sobre suas cabeças e ignora suas falhas, acreditando que seus filhos eram a perfeição. Não apenas isso, mas o tio deles era uma homem cruel que incentivava a crueldade nos sobrinhos e a avó era uma senhora completamente falsa que cultivava essa característica nos netos.
É muito difícil realizar um trabalho educativo em crianças cuja família destrói tudo o que foi ensinado a duras penas, e Agnes sente isso na pele. Apesar disso, ela não desiste e, mesmo sentindo-se solitária e por diversas vezes injustiçada nas críticas veladas que recebia da família, aguentava tudo calada, sempre dando o seu melhor.
Ainda assim, não demora muito para que a Sra. Bloomfield a dispense com diversas desculpas e críticas implícitas por não conseguir educar os filhos dela - ora, como ela poderia ensinar bons modos para crianças cuja família não os possui nem os incentiva?
Não demora muito tempo para que Agnes consiga outra família para contratá-la, dessa vez ela segue para Horton Ledge para educar os filhos dos Murray - inicialmente os 4 filhos: Rosalie, Matilda, John e Charles; contudo, logo os meninos partem para um internato, sendo assim, apenas as duas meninas ficam sob os cuidados da preceptora.
Rosalie era uma jovem vaidosa e prepotente, julgando-se superior aos seus subordinados, seguia os passos ensinados pelos pais ao tratar com condescendência os “inferiores”. Matilda, de igual forma, mostrava um temperamento difícil ao preferir cavalos e caçadas à vestidos e bailes - ou os estudos -, além de possuir um vocabulário incrivelmente chulo, característica adquirida ao passar tanto tempo com o pai e os amigos dele.
Ainda que tivesse adquirido uma experiência pelo tempo passado com os Bloomfields, não foi nada fácil esse novo desafio… Não apenas por que as meninas em nada se interessavam pelas lições, mas também por serem tão imprevisíveis e só fazerem o que queriam na hora que queriam. Portanto, Agnes sofria ao ter que se mostrar solícita para com elas que não levavam em consideração horários e rotina, fazendo com que a preceptora se levantasse bem cedo ao dizerem que queriam estudar logo para em seguida mudarem de ideia e permanecerem na cama sem se incomodarem de avisar à professora que ficaria esperando na sala de estudos por alunas que não viriam.
Agnes ficou com os Murray por volta de 2 anos e, nesse meio tempo, a saúde de seu pai ia deteriorando cada vez mais - o que preocupava a esposa e as filhas. Com as dívidas quitadas, Mary havia se casado com um pároco que lhe agradava e nossa heroína seguia com seu trabalho, juntando dinheiro para que pudesse se manter e à sua mãe.
Quando, enfim, Rosalie completa a idade de ser apresentada à sociedade, a jovem volta todos os seus esforços para conquistar os corações dos homens de Horton Ledge. Ela brinca com os interesses de diversos pretendentes, mesmo sabendo que no fim se casaria com o senhor Thomas Ashby por incentivo de sua mãe, já que ele era o homem mais rico da região. Agnes repreende tal conduta, porém seus conselhos entram por um ouvido e saem pelo outro.
Dentre os homens com quem Rosalie flerta está o senhor Weston, o novo pároco local, um jovem que havia causado interesse em Agnes pelos seus bons modos, gentileza e religiosidade. A senhorita Grey, que era ignorada por todos os membros da sociedade e seus servos, tratada como invisível, era vista por Edward Weston, que - sempre que possível - buscava iniciar uma conversa com ela.
Depois que Rosalie quebra o coração do reitor Hartfield, propositalmente, ela decide encontrar um novo divertimento romântico - Weston. Isso causa um conflito imenso dentro de Agnes que, por se considerar não merecedora do afeto do rapaz, cala-se diante de tais avanços. Rosalie e Matilda chegam ao ponto de inventar tarefas para a preceptora, mantendo-a sempre ocupada, para que esta não tivesse nenhum tempo livre de visitar a vila e encontrar - mesmo que por acaso - o senhor Weston. Já o pároco, sempre mostrando-se preocupado pela ausência da jovem, perguntava sobre ela, ao passo que as meninas respondiam que ela estava ocupada ou não se encontrava disposta para socializar. Algo que relatavam com muito gosto para Agnes, causando-a mais aflição interna pelas mentiras que contavam.
Não demora muito, Rosalie casa-se e parte em sua lua de mel com o senhor Ashby. Por outro lado, Agnes retorna para sua casa ao descobrir que a situação de saúde do pai era desesperadora. Infelizmente, a moça não chega a tempo. Sem a presença do marido, a mãe da protagonista recusa-se a ir morar com a filha mais velha e o genro, preferindo trabalhar para manter-se. É então que Agnes volta para Horton Ledge a fim de encerrar suas atividades e obrigações para com os Murray e despedir-se. Ela descobre que Weston também se mudará, podendo nunca mais vê-lo.
A sra. Grey e a filha mais nova montam juntas uma escola em outra região, sustendando-se por conta própria. A jovem segue sofrendo pelo amor não realizado e, talvez, não correspondido, sentindo falta das conversas que tinha com o homem que conquistou seu coração… Até que um dia, durante um passeio na praia local, Agnes encontra um velho conhecido e, quiçá, seu futuro não pareça mais tão solitário assim…
Devo começar dizendo que acho que nunca me identifiquei com uma personagem tanto quanto Agnes Grey…
Fico impressionada como 177 anos se passaram desde a publicação desse livro, mas as dificuldades enfrentadas pelos professores permanecem as mesmas, parece que não melhorou nada - muito pelo contrário. Muitas famílias continuam a agir da mesma forma que os Bloomfields e os Murray agiram na narrativa, passando a mão na cabeça de seus rebentos e os elevando a um pedestal inexistente.
Certamente as consequências que Rosalie sofreu pelo casamento imprudente e que as crianças dos Bloomfields sofreriam ao crescerem com aquela criação são consequências que muitos futuros adultos enfrentarão por aí.
E, infelizmente, a culpa dos problemas caem para o colo dos professores, uma classe que sofre pelas inconsequências dos jovens, pelas críticas dos adultos e pela pressão da sociedade.
Uma outra observação que devo fazer é sobre o início da história. Quando Agnes conta sobre o romance dos pais, não pude evitar comparar com a história dos pais da própria autora - Anne Brontë. A mãe de Anne também era uma jovem com muitos prospectos, porém preferiu se casar com um pároco que tinha poucos recursos. Apesar da família ser contra, ela foi muito feliz em sua decisão.
Anne Brontë e seus irmãos, Branwell, Emily e Charlotte, perderam a mãe muito novos e foram criados pelo pai e pela tia. Todos utilizavam a escrita como hobby e o faziam em conjunto (Branwell e Charlotte, Emily e Anne). Cada um, a seu modo, incluiu suas experiências em suas escritas e, conhecendo a história dessa importante família, fica fácil identificá-las no texto.
Esse é o terceiro livro Brontë que leio - O Morro dos Ventos Uivantes e Jane Eyre sendo os outros, respectivamente - e, se você quer conhecer um pouco mais sobre essas autoras clássicas, fica a recomendação da minha resenha sobre Os Manuscritos Perdidos de Charlotte Brontë.
Agnes Grey é um livro atemporal que retrata as dificuldades de desbravar o início da vida adulta com seus desafios, decepções, perdas e superações, além da lição de sempre manter a cabeça erguida e cumprir com seus deveres dignamente, apesar das injustiças.
Não se deixe abalar, pois a recompensa ao final será grande!
Anne Brontë
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