Escrava Isaura

“Escrava de pele branca, a linda e doce Isaura foi criada e educada como filha na família a que pertencia. Durante muito tempo, foi a protegida da matriarca, que prometeu que, após sua morte, a moça seria liberta. Entretanto, esse desejo não foi atendido pelo filho e herdeiro da família, e Isaura se tornou propriedade de Leôncio, um jovem sem caráter que, mesmo casado, se interessava obsessivamente por ela.

Para afastá-la do assédio de Leôncio e de outros homens da fazenda, o pai da moça, Miguel, um homem livre, tenta comprar a filha, mas não consegue. Decide então fugir com ela para o Nordeste do país. Os dois se instalam em Recife e adotam outros nomes. Lá, Isaura conhece Álvaro, um estudante jovem, rico, abolicionista e republicano por quem se apaixona e é correspondida. Álvaro fica sabendo que ela é uma escrava fugida, mas não deixa de amá-la.

Tendo sido descoberta e recapturada, Isaura volta para a fazenda de Leôncio, que a submete a castigos e humilhações por não ceder às suas investidas. Enquanto isso, Álvaro, que não desiste de sua amada, vai fazer de tudo para tê-la em seus braços.”

Informações:

Editora: Autêntica

Autor: Bernardo Guimarães

Ano da 1ª publicação: 1875

Ano desta edição: 2018

Gênero: Literatura clássica, Ficção, Romance regionalista

Páginas: 172

“Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa educação que me deram, e essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?…”

O que falar sobre Escrava Isaura? …

Um clássico da literatura brasileira, publicado pela primeira vez em 1875, foi um dos grandes marcos do Romance Abolicionista. Esta obra faz parte da 3ª geração do Romantismo (uma das minhas Escolas Literárias favoritas, diga-se de passagem…), a geração que ficou conhecida como “condoreira” - em referência ao pássaro condor, símbolo de liberdade.

O grande objetivo dessa época Romântica era criticar a escravidão e valorizar a igualdade e liberdade dos homens, independente de raça.

Bernardo de Guimarães fez um excelente trabalho ao colocar sua protagonista, uma escrava branca, em situações tais que representavam a realidade das mulheres negras escravas. Certamente foi um choque de realidade para as mulheres brancas da época; ao ler, colocarem-se no lugar daquelas que sofriam violências físicas, emocionais e psicológicas das piores maneiras possíveis - já que o que é retratado na obra não chega nem a 1% do que acontecia no cotidiano daquelas mulheres.

Não preciso nem dizer que sou apaixonada pelo Álvaro, certo? O nosso grande herói, o mocinho que auxiliou em todos os momentos sua amada. Ele verdadeiramente foi o ideal de galã e “príncipe encantado”, apesar das mentiras e da situação de sua amada, ele em nenhum momento vacilou em seus sentimentos, nem mudou sua forma de ver Isaura. Ele foi fiel e constante em seu amor durante toda a narrativa. (E a forma como ele descrevia Isaura… 😍)

Não, gente, apesar de tudo, Isaura não era nenhuma donzela fraca e sem força própria. Ela sabia, sim, se defender, apesar de ter o auxílio de homens durante toda a sua jornada - seu pai Miguel, seu amado Álvaro, o amigo Dr. Geraldo… - ela, em todo momento, se mantém firme em suas crenças e opiniões, não se deixa levar pela influência de Leôncio, nem pelas intrigas de Rosa ou pelas opiniões de Malvina.

Isaura sabia seu lugar, devido a sua situação como escrava; porém, ser submissa e ser passiva são coisas completamente diferentes. A jovem não deixou que fizessem o que quisessem com ela, manteve os pés firmes no chão, não se deixou levar e enfrentou tudo e todos pelos seus ideias, sua virtude e sua honra.

Tudo seria mais fácil se Isaura apenas aceitasse sua sina e abaixasse a cabeça para as investidas e a obsessão de seu senhor. Ela não teria que passar por toda a violência e humilhação as quais foi submetida. Contudo, apesar de ser obediente e humilde, ela também era forte e determinada, e decidiu seguir pelo caminho mais difícil, lutando pelo seu destino e seu amor pelo jovem Álvaro. Isaura foi uma heroína.

“É ela a criatura mais nobre e encantadora que tenho conhecido. Não é uma mulher: é uma fada, é um anjo, é uma deusa!”

Claramente, devido à geração a qual esta obra pertence, pode-se observar explicitamente a idealização da mulher - vista como um ser perfeito e inalcançável -, a valorização da natureza - encontrada através das detalhadas descrições dos espaços em que a história se passa -, a realização do amor através dos sonhos ou da morte - visto pela obsessão de Leôncio, que sonhava com Isaura e é extremamente violento para com ela na reta final da narrativa -, encontra-se também a presença de personagens abolicionistas e republicanos - como o próprio Álvaro - se contrapondo com o vilão, senhor de Isaura - um escravocrata, hipócrita e corrupto.

Ainda é notável a realidade da alforria e a dificuldade de obtê-la, a fuga dos escravos para os quilombos, a relação entre escravos e feitores, e ainda os casamentos da época que, em sua maioria, eram apenas de aparências.

Um romance regionalista, que contém valores morais mais conservadores no campo em comparação com as cidades.

Inspirado nesse livro, temos duas novelas ambas com o título “A Escrava Isaura”: a primeira, produzida pela TV Globo em 1976, apresenta Lucélia Santos como Isaura, Rubens de Falco como Leôncio, Edwin Liusi como Álvaro e Norma Blum como Malvina; já a segunda, produzida pela TV Record em 2004, mostra Bianca Rinaldi como Isaura, Leopoldo Pacheco como Leôncio, Théo Becker como Álvaro e Maria Ribeiro como Malvina.

“Levanta-te, Isaura; não é a meus pés, mas sim em meus braços, aqui bem perto do meu coração, que te deves lançar, pois a despeito de todos os preconceitos do mundo, eu me julgo o mais feliz dos mortais em poder oferecer-te a mão de esposo!…”

Bom… para quem já conhece a história de Isaura, já viu a novela, mas nunca leu o livro, só me resta recomendar essa leitura deliciosa.

Sério, galera, o final é surpreendente (e não, a história não termina com Álvaro e Isaura tendo seu felizes para sempre, quer dizer, eles têm, mas a história acaba realmente com outro acontecimento que vocês não esperam… plot twist).

Spoilers à parte, os livros da era Romântica são, sem dúvidas, parte dos meus favoritos de todos os tempos. E Escrava Isaura tem um lugarzinho especial no meu coração.

Para quem nunca leu, depois me diga o que achou!

“Não há dinheiro que a pague; há de ser sempre minha.”

Leôncio Almeida

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