Mowgli, o menino lobo

“Ao escapar de um ataque do prepotente tigre Shere Khan à sua aldeia, Mowgli, ainda bebê, encontra abrigo em uma caverna habitada por lobos na floresta.

Logo ele é acolhido por Pai Lobo e Mãe Loba, que se enternecem, ao ver aquele menininho indefeso, porém destemido, entre os filhotes. Uma vez integrado à alcateia o menino se torna protegido da pantera-negra Bagheera e pupilo de Baloo, o velho urso-pardo encarregado de lhe ensinar as leis ancestrais do jângal e a ler as entrelinhas da floresta.

O temido Shere Khan, porém, estará sempre à espreita confabulando contra Mowgli e aguardando o momento oportuno para consumar sua caçada - uma rixa que o menino-lobo precisará solucionar antes que vire presa nas mãos do tigre.”

Informações:

Editora: Nova Fronteira

Autor: Rudyard Kipling

Tradução: Monteiro Lobato

Ano da 1ª publicação: 1894 / 1895

Ano desta edição: 2022

Gênero: Literatura Fantástica

Páginas: 197

“Dorme, que tempo há de vir em que você caçará Shere Khan, como ele quis caçá-lo ainda há pouco.”

É impossível ler esse livro e não se lembrar do clássico filme da Disney - ou até mesmo da história de Tarzan. É uma obra que nos faz questionar a habilidade de adaptação e até mesmo a habilidade linguística do ser humano, e suas relações com os seres ao seu redor.

A história começa com uma caçada de Shere Khan, o temido tigre, próximo à caverna de uma família de lobos. O animal havia atacado um grupo de homens, restando apenas um bebezinho que conseguira escapar das garras do tigre e foi adotado e protegido pela Mãe Loba e pelo Pai Lobo. Furioso pela perda de sua presa, Shere Khan jura que um dia ainda conseguirá matar o “filhote de homem”. Sob a proteção da família de lobos, o bebê recebe o nome de Mowgli (a pequena Rã) e precisa passar por seu primeiro grande desafio no jângal: ser aceito pela alcateia.

Em uma cerimônia realizada de tanto em tanto tempo por Akela, o líder da alcateia, as lobas apresentam seus filhotes para todos os membros do povo livre para que saibam quem são os novos integrantes e não ocorram mortes indevidas. É nessa cerimônia que a Mãe Loba, apreensiva, apresenta Mowgli. Ainda que Shere Khan tente manipular os lobos, o urso Baloo e a pantera Bagheera votam a favor do menino e compram sua vida pelo preço de um búfalo - só assim o filhote de homem poderia viver com a alcateia.

A partir de então, Mowgli cresce sob a lei do jângal, aprendendo com Baloo o modo de vida dos animais, as senhas para transitar entre os diferentes territórios das diversas espécies que ali habitavam e como contribuir para o bem-estar do povo livre, sendo sempre amparado por Bagheera e sua família adotiva.

Mas nem tudo são flores, pois Mowgli, atrevido, sempre se mete em confusões e aventuras; como a vez em que foi sequestrado pelos bandar-log - um grupo de macacos - e levado até a cidade abandonada que eles invadiram. Mesmo com todos os avisos do sábio urso, o menino tinha uma personalidade forte e sua teimosia o colocava em situações perigosas para si mesmo, deixando a todos os animais que se importavam com ele de cabelo em pé (ou seria pelo?). Ainda bem que sua esperteza era tão grande quanto a teimosia, sendo assim conseguiu lembrar da senha e se comunicar com Chil, o Gavião, pedindo para que avisasse ao urso e a pantera da enrascada em que se metera, os dois amigos, sem hesitar, logo recrutaram Kaa, a Serpente para a missão de resgate - o réptil sendo o único animal que realmente assustava os bandar-log.

Entre tantos desafios, Shere Khan estava sempre a espreita, esperando pelo momento oportuno em que poderia colocar em prática a sua vingança e concluir a caça que iniciara há anos. Manipulando os membros mais jovens da alcateia, aos poucos ele vai virando os lobinhos contra o filhote de homem até conseguir seu objetivo: expulsar Mowgli do jângal.

“- Depois do verão vêm as chuvas e depois das chuvas vem a primavera. Volte para o seu povo, para os homens.”

Quando Mowgli foge do jângal para não ser morto por Shere Khan, ele parte em direção a cidade mais próxima daquele lugar e, curiosamente, encontra o que parecem ser seus pais biológicos. É acolhido pela família e, ainda que tenha dificuldades de se adaptar à vida na civilização, aprende os ofícios de pastor.

O filhote de homem conhece os líderes da “alcateia dos homens” e as mentiras (ou “histórias de pescador”) contadas pelos pastores. Teimoso como sempre, não aceita que lhe digam como se portar ou o que fazer e, sabendo da aproximação e da vulnerabilidade de Shere Khan após a última caçada, com a ajuda de Akela e do Lobo Cinzento - e dos búfalos que pastoreava - Mowgli arma uma emboscada para o temido tigre e finalmente coloca um fim na disputa dos dois rivais. O rapaz pode então voltar para o jângal carregando como seu troféu a pele de seu inimigo.

Um porém o separa de tal retorno vitorioso: um dos pastores observa parte da luta e retorna para a cidade contando mentiras sobre o acontecido e acusando Mowgli de feitiçaria, atiçando assim a fúria dos outros homens contra o menino e contra os pais que o acolheram. Com a ajuda de seus amigos do jângal, o filhote de homem salva os pais de apedrejamento e os guia até uma outra cidade para que fiquem em segurança. Não apenas isso, mas sua vingança contra a tribo dos homens se completa quando, com a colaboração de Hathi, o Elefante e seus poderosos filhos, destrói as plantações e os muros da cidade, afugentando todos que ali viviam e deixando que a natureza recupere seu território.

Mowgli retorna para junto dos lobos, agora como o senhor do jângal e protetor da alcateia, auxiliando-os a se defenderem de ataques de outros animais perigosos que queriam ocupar seu território e tomar para si suas caças. O tempo passa e o filhote se torna homem, muitos dos antigos membros do povo livre já haviam morrido - inclusive Akela -, Baloo estava cego e Bagheera já não era mais tão veloz como nos velhos tempos. Mowgli começou a se sentir solitário, observando os grupos de animais a viverem cada um com seu igual - e ele senhor do jângal caminhava entre todos como seu líder, porém sem ninguém ao seu lado que o entendesse e compartilhasse das suas angústicas.

Chega então o momento que havia sido previsto por Akela no seu leito de morte: “Mowgli expulsa Mowgli”, era hora de voltar para os seus iguais e encontrar sua companheira, como ele havia observado todos os animais fazerem em algum momento da sua vida. Sua sensação de solidão não seria aplacada enquanto não retornasse para junto dos homens, por mais rápido que ele fosse para tentar fugir disso e por mais que ele tentasse negar essa necessidade. As dívidas haviam sido todas pagas.

“Hoje não é o filhote de homem que pede licença à sua alcateia, é o senhor do jângal que resolve mudar de caminho. Quem pedirá contas ao homem do que ele quer ou faz?”

Ler Mowgli, o menino lobo é como retornar para a infância e relembrar um dos meus filmes de animação preferidos da era clássica da Disney (que eu assistia em VHS). É impossível também não lembrar do clássico “Tarzan” e fazer comparações entre as narrativas.

Essa obra não apresenta a história completa do filhote de homem, contando com apenas 8 contos dos dois livros escritos por Rudyard Kipling e traduzidos por Monteiro Lobato, mas acredito que traga os momentos essenciais da história do personagem título, o suficiente para compreender sua jornada.

Certos elementos são diferentes da história que eu “conhecia”, como por exemplo a amizade de Bagheera e Baloo, que se dava de tempos antes de Mowgli aparecer, ou a índole de Kaa, que no filme é retratada como uma vilã e ajudante de Shere Khan (na verdade, no livro ela é super amiga do Mowgli e sempre o ajuda a sair das enrascadas em que se mete).

A relação do menino lobo com os homens também é trabalhada mais profundamente do que no filme, o que torna a leitura interessante não só pelo aspecto de entreter, mas também pela análise do comportamento humano de se adaptar ao local em que foi criado/vive e o desenvolvimento da aquisição linguística.

Se você procura uma leitura leve, porém que te coloca para pensar, então esse livro é para você - independente da faixa etária.

Boa leitura!

“- Vocês conhecem a lei. Olhem bem, portanto, ó lobos, para que mais tarde não haja enganos. Olhem bem, lobos. Olhem bem.”

Rudyard Kipling

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