“O helicóptero sobrevoando a ilha não era da polícia. Fora alugado pela televisão estatal, a NRK. Enquanto filmava sobre o Quarteirão do Governo, em Oslo, a equipe de câmera recebeu ordem do chefe de turno para se dirigir a Utoya.
A distância era longa demais para que o operador conseguisse distinguir o que a lente captava. Só depois, ao conferir as gravações, ele veria que filmara um massacre.”
Editora: Record
Autora: Asne Seierstad
Ano da 1ª publicação: 2013
Ano desta edição: 2016
Gênero: Biografia, Crime real
Páginas: 556
O livro de Asne Seierstad é mais um baseado em fatos reiais, porém, dessa vez, em uma situação devastadora: um massacre.
No dia 22 de julho de 2011, toda a Noruega ficou em estado de choque ao assistir as notícias e perceber que 77 pessoas perderam suas vidas e outras 51 ficaram feridas - dentre as 128 vítimas, a sua maioria eram adolescentes e jovens. é sobre isso que trata o livro de hoje.
Um de Nós segue a história de vida de Anders Behring Breivik - o norueguês terrorista que causou o massacre -, assim como a história de vidas de algumas de suas vítimas. Podemos acompanhar os conflitos pelos quais a mãe de Anders - Wenche - passou internamente, a infância problemática a qual Anders foi sujeitado, sua família sendo desfeita, sua adolescência sendo excluído, sua vida adulta sendo obcecado. Acompanhamos cada fase de sua vida e cada um de seus projetos iniciados e não-finalizados, cada insucesso e cada desistência. E a repetida rejeição que sofreu vez após vez por toda a vida.
Por outro lado, podemos observar as infâncias conturbadas de alguns jovens, seus crescimentos pessoais e intelectuais e, principalmente, suas fomes por experiências - seus potenciais para grandes coisas. Vidas que foram ceifadas prematuramente.
Por volta das décadas de 70 e 80, a Noruega começou a receber muitos imigrantes de países da Ásia e da África: Iraque, Marrocos, Paquistão, Líbano… diversas famílias refugiadas que se arriscavam fugindo das guerras em busca de oportunidades melhores. Infelizmente, com eles, veio grande rejeição por parte de alguns nativos noruegueses. Um deles era Breivik.
Crescido no meio dos imigrantes, Anders fez amizade com alguns meninos e meninas refugiados, na sua infância; distanciou-se deles conforme os anos passaram. Com tendências para obsessão por determinados assuntos, mas sem nunca conseguir exceder as expectativas naquilo que se propunha fazer, o rapaz foi se revoltando contra tudo e contra todos.
Fama, fortuna, sucesso. Tudo o que A. B. B. queria.
Se envolveu com pichação - apesar de ser muito bom, nunca conseguiu conquistar a admiração dos outros rapazes.
Abriu diversas empresas, nenhuma foi bem sucedida.
Quis virar maçom. Assim que foi iniciado, perdeu o interesse.
Se viciou em videogames, principalmente War of Warcraft. Ficou vidrado, jogando 24h por dia por, mais ou menos, 5 anos.
Logo, teve acesso à textos e opiniões de radicais revoltados com o grande fluxo de imigração de muçulmanos para a Noruega.
Começou a escrever seu próprio compilado de livros radicais, trabalhou nisso por 2 anos. Os dois primeiros que “escreveu”, eram plagiados - parágrafos de autores e comentaristas da internet. Apenas o terceiro foi escrito por ele, o tinha em sua essência. Era o pior de todos.
Enquanto escrevia seu “diário de bordo”, colocava em prática seu plano. Alugou um sítio e comprou diversos ingredientes químicos para criar sua própria bomba caseira; também comprou armas e uniformes para se disfarçar. Ficou durante os tais 2 anos planejando tudo. No dia 22 de julho de 2011, colocou tudo em prática. Foi um ataque terrorista que ninguém esperava.
Os policiais ao, finalmente, prender Anders Breivik ficaram “um pouco perplexos. Provavelmente, eles não esperavam um norueguês, mas um homem escuro.”
Foi uma leitura bem intensa, principalmente por se tratar de um caso real e - relativamente - recente. Anders Behring Breivik tem 42 anos e está na prisão por seus crimes, porém nada apagará a dor daqueles que perderam alguém naquele fatídico 22 de julho.
Me emocionei com os relatos dos jovens sobreviventes que constam no livro no período do julgamento, me indignei com a reação policial no dia do atentado, me revoltei com o AUF - grupo da Juventude Trabalhista - e a falta de tato que tiveram com os pais que perderam seus filhos.
Sinceramente, não sei o que me surpreendeu e irritou mais: a negligência da polícia norueguesa ou o fato de que, além de Breivik, nenhum policial e nenhum membro líder do AUF foi julgado e condenado.
A polícia da Noruega certamente contribuiu para que essas mortes acontecessem ao serem negligentes e retardarem à ação com diversos erros cometidos e a falta de comunicação clara entre as equipes.
De igual forma, a AUF não tinha nenhum plano de emergência, nenhum protocolo de segurança para proteger os jovens campistas em Utoya. Na minha opinião, também tiveram sua parcela de culpa.
Não sei vocês, mas depois de tudo isso… desencantei-me com o país…
Asne Seierstad
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