Nova York 2140

“A mais terrível previsão de cientistas de todo o mundo se concretiza: o aquecimento global eleva o nível do oceanos, submergindo a cidade de Nova York.

Os habitantes da metrópole, no entanto, conseguem se adaptar, e a Grande Maçã segue tão viva e fervilhante como sempre, ainda que de formas inteiramente distintas das de antes.

Cada rua é agora um canal; cada arranha-céu, uma ilha.

Por meio dos olhos - e dos destinos - de diversos moradores de um prédio da antiga Madison Square, Kim Stanley Robinson nos mostra como uma das maiores cidades do mundo se transformaria após uma catástrofe climática dessa magnitude, no limite entre a utopia e a distopia.

Não seria apenas a cidade a mudar: a humanidade jamais seria a mesma.”

Informações:

Editora: Planeta

Autor: Kim Stanley Robinson

Ano da 1ª publicação: 2017

Ano desta edição: 2019

Gênero: Ficção científica, Romance

Páginas: 493

“Se você acha que sabe como o mundo funciona, pense novamente. Você foi enganado. Não sabe; não pode vê-lo, nunca lhe contaram a história inteira. Desculpe. É assim que as coisas são.”

Você já pensou no que aconteceria se praticamente todas as geleiras derretessem e o nível do mar subisse de forma absurda ao ponto de inundar todas as cidades litorâneas? O que aconteceria com essas cidades e as pessoas que moram nelas? Como seria a vida em um planeta com mudanças climáticas tão críticas e catástrofes sem proporção? Pois Kim Stanley Robinson aparece para responder a essas perguntas com seu livro: Nova York 2140!

A história se passa na cidade que nunca dorme e mostra uma realidade que talvez não esteja tão distante assim de nós…

Depois de duas grandes inundações tratadas na narrativa como “o Primeiro Pulso” e “o Segundo Pulso”, a Grande Maçã prospera em meio a investimentos arriscados, apostas em áreas imobiliárias, e a vida na zona chamada de “entremarés” parece bem estabelecida - atenção: parece.

Focando o enredo na vida dos residentes do edifício MetLife (um dos arranha-céus mais altos do mundo, com impressionantes 246 metros de altura e 60 andares - sua construção foi concluída em 1963), a história é contada através de diversas perspectivas, pois os personagens centrais da trama são postos como seus narradores. São eles:

Mutt e Jeff: dois programadores quantitativos que são raptados ao hackear o sistema financeiro mundial;

Inspetora Gen: chefe da polícia de Nova York - investiga o desaparecimento de Mutt e Jeff, além de auxiliar os outros personagens com seu conhecimento de leis;

Charlotte: uma advogada que trabalha na área de imigração e no “sindicato dos proprietários”, além de ser presidente do conselho executivo do edifício onde mora;

Amelia: uma famosa celebridade da “nuvem” que trabalha transportando animais em risco de extinção para áreas onde podem prosperar - chamando bastante atenção para as causas ambientais ao transmitir todas as suas aventuras e trapalhadas;

Vlade: síndico do edifício, toma conta de sua organização e mantém todo o prédio em funcionamento com o auxílio de seus funcionários;

Franklin: um investidor muito inteligente, traz a perspectiva econômica para a narrativa. Por algum motivo é sempre ele que salva as crianças das confusões em que se metem;

Stefan e Roberto: as crianças que sempre se metem em confusão, são órfãos e vivem como “ratos d’agua”. Depois de acharem um tesouro perdido e precisarem da ajuda dos adultos para resgatá-lo, depois de quase se afogarem, são “adotados” pelo edifício.

Por fim, um cidadão: a voz de um narrador anônimo que guia os leitores nos segredos da cidade, aquilo que não está aos olhos de nossos queridos personagens.

São diversos personagens trazendo, cada um, uma perspectiva relevante para o enredo balanceando bem o desenvolvimento da história e auxiliando o leitor a compreender cada vez mais a situação econômica, política, social e ambiental desse futuro distópico. Ah, e todos eles moram no mesmo prédio: a cooperativa MetLife.

“Vivemos em um mundo no qual as pessoas fingem que o dinheiro pode comprar qualquer coisa, então dinheiro é o objetivo, todos trabalhamos por dinheiro.”

Tudo começa com Mutt e Jeff no terraço do edifício, onde eles moram, conversando sobre os problemas que envolvem a economia mundial e o que poderia ser feito para mudar tal situação. Até que um deles decide hackear o sistema e “virar a chave” a favor do povo.

Apesar de ter boas intenções, uma ação tão brusca assim obviamente teria repercussões desagradáveis, e é justamente o que acontece: os dois são raptados no meio da noite. Charlotte, ao notar o desaparecimento dos dois residentes, vai em busca da inspetora Gen para notificar o ocorrido. Inicia-se então uma investigação em busca dos personagens.

Enquanto isso se desenrola, acompanhamos as aventuras de outros três núcleos: Amelia e sua tarefa de transportar os animais em risco de extinção (mais especificamente ursos polares que serão levados até o Polo Sul. Um plano que, infelizmente, é mal sucedido); Franklin e seu interesse amoroso em Jojo, uma jovem que lhe é apresentada pelos seus amigos - e que mora no Flatiron, um edifício ao lado do MetLife -; e Stefan e Roberto e sua caça ao tesouro perdido do Hussar (um navio afundado há muitos séculos).

Sobre o romance entre Franklin e Jojo, é algo que não vai para frente (já que ele se mostra muito mais interessado do que ela). Ao início de suas interações, ambos pareciam ter muito em comum, inclusive a profissão: investidor em ações. Porém com o desenrolar da narrativa, vemos que a mulher aparenta ter se aproximado dele apenas por interesse. Um dos pontos que ela apresentou como divergente entre eles é que ela investia em favor da sociedade enquanto ele investia em favor dos empresários.

Ao perceber que isso poderia ser um impedimento em seu futuro relacionamento, Franklin muda seu “mindset” e procura um plano de investimento que pudesse favorecer as pessoas. O rapaz até que tem uma ideia realmente promissora: investir em “quarteirões balsa”, um projeto que minimizaria os danos que as mudanças nas marés provocavam. Ele tenta compartilhar essa ideia com Jojo como forma de impressioná-la, mas o que acontece é surpreendente: ela “rouba” a ideia dele!

Por outro lado, Stefan e Roberto conheceram um senhor chamado Hexter - um colecionador de mapas e um homem de muito conhecimento histórico. Ele conta para os meninos a história do Hussar, um navio naufragado que carregava dois baús preenchidos de moedas de ouro. Inspirados pela aventura, os dois vão até o lugar onde o senhor Hexter calculou que o tesouro teria afundado - e eles realmente encontram!

Após quase se afogarem tentando desenterrar os baús sozinhos, eles são salvos por Vlade, o síndico do edifício e quem os acolhia. Então, com a ajuda dele e de Idelba - ex-esposa de Vlade - eles conseguem sugar grande parte dos destroços de debaixo d’água e encontrar os baús. As moedas são levadas para o edifício e o grupo busca o conselho de Charlotte (para guardar em segurança o tesouro), de Franklin (sobre como fazer o ouro render) e de Gen (sobre a legalidade de tudo isso, já que eles estavam escondendo um tesouro histórico).

Ah, além de todas essas empreitadas, o edifício em que o grupo morava estava recebendo uma oferta hostil de venda - e sofrendo sabotagens para que os residentes se sentissem obrigados a aceitar tal proposta (o que não acontece, ainda bem!)

O fim é bem interessante, depois de sobreviverem a um furacão tenebroso, mudanças no governo são necessárias - já que muitas pessoas ficaram sem moradias, sem recursos, sem nada e o governo se recusou a prestar qualquer auxílio. Charlotte candidata ao governo? Temos!

Depois de muitas investigações, Gen descobre quem raptou Mutt e Jeff, quem fez a oferta hostil ao MetLife e parte dos tentáculos do polvo são aos poucos ligados ao seu corpo (referência do livro…).

Final feliz? Não, de jeito nenhum. Essa obra traz uma narrativa ficcional e distópica? Sim, mas também realista e um pouco utópica - um governo 100% honesto e que trabalhe em função do povo? É um verdadeiro sonho de consumo. Não há um final feliz, há um final com mudanças. Se essas mudanças serão definitivamente benéficas a longo prazo, não sabemos. Mas todos esperam que sim. Um final com reflexões, eu diria, com certeza!

“Vamos lembrar: facilidade de representação. As coisas são sempre mais do que você vê, maiores do que você sabe.”

Essa, novamente, foi uma leitura que levou mais de um mês para ser concluída - não por conta do livro já que a narrativa é bem fluída e muito interessante.

Trazendo muitos fatos históricos verídicos e curiosos, Kim Stanley faz uma comparação com situações do passado e suas reflexões no presente deles / futuro nosso (faz sentido?)

Será que viveremos sempre nesse círculo vicioso? Cometendo sempre os mesmo erros, colocando em altos cargos as mesmas pessoas que já nos provaram não serem merecedoras de deterem tanto poder em suas mãos? Podemos confiar no governo?

A população detém o verdadeiro poder - já fomos capazes de grandes revoluções (algumas com finais terríveis para seus instigadores, sejamos sinceros) -, então, por que não acordamos e mudamos a história? Colocamos nossa confiança em pessoas que realmente têm os nossos melhores interesses em seus planos?

Confesso que o enredo traz muitos conhecimentos de economia e termos que tive dificuldade de compreender, mas foi uma leitura que me fez refletir sobre o poder do povo, o poder do governo, o poder econômico e, principalmente, o poder da natureza.

Será Nova York 2140 o nosso futuro? Torcemos para que não. Talvez ainda dê tempo de mudarmos o rumo da história e evitarmos tantas catástrofes. Que tenhamos um governo justo para todos, com oportunidade de crescimento e melhores condições para se viver. Para nós e para o meio ambiente, pois sem o segundo ficará difícil para o primeiro seguir em frente.

Fica a minha recomendação de leitura!

Ah, menção honrosa para as referências literárias e culturais presentes no meio do enredo (amei ver que Herman Melville foi uma das aventuras dos meninos e gostei bastante de ler sobre algumas curiosidades, mesmo que fossem tristes, como no caso da elefanta Topsy - 1903).

Ficou curioso? Então corre para ler! ;)

“O fim do mundo: Nova York vazia, abandonada aos elementos que agora uivavam em triunfo por sua vitória.”

Kim Stanley Robinson

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