“Era uma coisa muito impressionante descer o rio enorme, calmo, deitados de costa olhando pra cima, espiando as estrelas; não dava vontade nenhuma de conversar em voz alta e de vez em quando a gente ria; só um pouco e baixo. No geral, o tempo ficou ótimo o tempo todo e nunca nada aconteceu contra nós: nem naquela noite, nem na outra.”
Editora: Principis
Autor: Mark Twain
Ano da 1ª publicação: 1884
Ano desta edição: 2019
Gênero: Literatura infantil, Romance picaresco
Páginas: 304
Para quem nunca leu Tom Sawyer, o início desse livro pode ser um pouco confuso - já que As aventuras de Huckleberry Finn começa sua história com o final dele.
Huckleberry Finn, nosso protagonista, é um dos melhores amigos de Tom Sawyer e faz parte do grupo de meninos que estão sempre arranjando confusão por aí. Ele é adotado por uma viúva que tenta educa-lo, porém o pai dele - que andava sumido - reaparece para perturba-lo.
O pai de Huck Finn é um alcoólatra que gasta qualquer quantia de dinheiro que caia em suas mãos com bebidas; é por isso que ele sempre vai atrás do filho, pois sabia que o menino tinha achado um tesouro em sua última aventura com Tom e ambos tinham depositado a quantia descoberta no banco para render lucros.
Depois de muito atormentar o filho, o pai de Huck consegue capturá-lo e levá-lo para o outro lado do rio, para longe das pessoas que ajudavam a cuidar bem do menino. A viúva até tentou tirar a guarda do pai de Huck na justiça, só que um magistrado recém-formado estava atuando naquela vila e, sem saber da real situação em que estava se metendo, deu o veredito a favor do pai. A partir daí, Huck se torna quase que um prisioneiro do homem, sendo obrigado a abandonar os estudos para cuidar dos afazeres domésticos na cabana em que estavam ocupando - isso enquanto sofria abusos físicos do pai bêbado.
Sempre que o homem saia para arranjar mais dinheiro para suas bebidas, trancava o menino na cabana - portas e janelas cerradas. Sem saída e cansado da situação em que se encontrava, Huckleberry começa a bolar um plano para fugir e deixar aquele lugar para trás, de uma forma que ninguém fosse procurá-lo.
Certa vez, quando o pai saiu e o trancou na cabana, Huck Finn achou uma serra e, com ela, serrou parte da madeira que formava a parede da cabana, conseguindo assim escapar. Ele então cria toda uma cena de crime, como se ele tivesse sido assassinado, matando um porco e utilizando o sangue como vestígio. O menino pega uma canoa que havia escondido e foge pelo rio com ela para uma ilha ali próxima ficando de tocaia para ver o desenrolar das coisas. O pai, assim como os amigos de Huck, tentam encontrar o “corpo” no rio, porém sem sucesso.
Depois disso, Huck fica por um tempo na ilha Jackson, sobrevivendo sozinho e escondido das pessoas de sua antiga vila; porém, uma surpresa: o escravo Jim estava escondido ali também! Jim era o escravo da senhorita Watson que havia fugido ao saber que seria vendido para uma fazenda longe de onde estava sua família. O problema era que Jim fugiu no mesmo dia do suposto “assassinato” de Huckleberry, por isso, as pessoas estavam o culpando pelo “crime”.
Os dois vivem juntos na ilha por um tempo, até que Huck decide se disfarçar e ir até alguma casa para saber das fofocas da vila e se tinha alguém procurando por eles. Nessa viagem, ele descobre sobre o que estavam falando de Jim e que haviam visto as fumaças das fogueiras que eles estavam fazendo na ilha, sendo assim, acreditavam que o homem poderia estar se escondendo lá. Ao perceber que um grupo iria vasculhar o local que eles utilizavam como esconderijo, o menino volta o mais rápido que pode para avisar Jim e, assim, conseguirem fugir a tempo. Eles fazem uma balsa e seguem rio abaixo.
É aí que a aventura começa…
Entre um barco a vapor naufragado dominado por ladrões, vilarejos desconhecidos, uma tempestade perigosa.. Huck e Jim enfrentam diversos perigos ao descer o rio Mississipi em busca da liberdade. Na verdade, o objetivo era ir para o norte, onde os estados abolicionistas ficavam - em época da Guerra Civil, Sul e Norte do país batalhavam pela decisão do destino de milhares de pessoas traficadas. Infelizmente, eles não conseguem seguir até o local que desejavam. Dessa forma, eles decidem deixar a correnteza do rio os levar pelo sul, navegando apenas de noite e se escondendo durante o dia para que ninguém avistasse Jim e o levasse de volta para seu antigo estado de escravidão.
Depois de uma tempestade terrível os dois acabam se separando e Huck se encontra nas terras de duas famílias rivais. Ele é acolhido por uma delas e faz amizade com os filhos da família, principalmente com o menino que tinha a idade dele. Mas uma decisão, por menor que seja, pode alterar o futuro de toda uma parentela. Uma das filhas dessa casa foge para se casar com o filho da casa rival. É aí que uma batalha entre eles estoura, com tiroteio para todo lado e muitas vidas ceifadas. Huck é o único dos meninos daquela casa que consegue escapar. Ele se reencontra com Jim e os dois fogem de novo pelo rio na balsa.
Entre outras aventuras que eles vivem, a dupla encontra dois homens que estavam fugindo de um vilarejo. Eram vigaristas que enganavam a todos para conseguir dinheiro fácil. Durante a viagem na balsa, o mais novo se intitula duque e o mais velho, rei. Eles seguem viagem com Huck e Jim, fazendo com que estes os servissem. O grupo para em algumas cidades para aplicar golpes e arrancar dinheiro das pessoas. Em uma dessas paradas, os vigaristas se declaram os tios de umas meninas que tinham acabado de perder o único parente que era responsável por elas. Por que eles fizeram isso? Ora, pois o defunto tinha deixado uma herança bem gorda para os dois irmãos que moravam na Inglaterra - e que ainda não tinham dado as caras, muito menos respondido às cartas enviadas.
Com pena das meninas, Huck faz de tudo para tentar ajudá-las sem dar pista de que era ele que estava atrapalhando os planos do duque e do rei. Quando o menino finalmente pensa que se livrou dos malandros e estava pronto para dar no pé com Jim, lá aparecem os dois de novo. Até que eles param em uma outra cidade e o rei diz que vai avaliar o local primeiro, que os outros deveriam ficar na balsa e apenas ir atrás dele se ele não voltasse. Como ele não aparece de novo, Huck e o duque vão até a cidade, deixando Jim escondido - como de costume. Porém, quando o duque e o rei se metem em uma briga, e Huckleberry dá sebo nas canelas para fugir com Jim, o menino descobre haviam capturado o seu amigo.
Huckleberry percebe que havia sido tudo armação dos trambiqueiros e que eles haviam vendido Jim para uma fazenda como um escravo fugido. Huck Finn, então, vai até essa fazenda e se passa pelo sobrinho dos donos, que aguardavam a chegada do parente. Para sua surpresa, a emenda saiu melhor do que o soneto: o sobrinho do casal era seu melhor amigo, Tom Sawyer - que aparece depois e se passa por seu irmão mais novo, Sid, para ajudar o amigo.
Quando Huck conta tudo o que aconteceu para Tom, e seu plano de salvar Jim, os dois meninos se unem para libertar o homem da escravidão. Sabendo que “meninos serão sempre meninos”, não importava o quão fácil seria ajudar Jim a fugir, eles queriam viver uma aventura, nem que para isso eles tivessem que inventar os obstáculos para conquistar o objetivo. Depois de muitas trapalhadas e de quase enlouquecerem a tia Sally, o plano dos dois é descoberto e a verdade sobre tudo é revelada pela tia Polly, que chegava do vilarejo onde os meninos moravam.
E pensar que Tom Sawyer fez Huckleberry Finn se meter em diversas confusões e viver aventuras com as suas ações para libertar Jim, sendo que este já estava liberto!
Mark Twain foi um marco na literatura norte-americana, principalmente com os seus temas pessimistas, realistas e abolicionistas.
Retratando a verdade feia de seu país, o autor apresenta críticas à sociedade de sua época, porém de uma maneira voltada ao público infantojuvenil.
É interessante como suas obras se conectam já que o final de Tom Sawyer marca o início de As aventuras de Huckleberry Finn, as histórias se complementam e os personagens de um livro aparecem e/ou participam dos acontecimentos do outro.
Por diversas vezes, Huck Finn me deixou agoniada com suas ações - principalmente quando ele estava tentando se livrar do duque e do rei e não conseguia - por mim era ele dar uma desculpa para sumir por alguns minutos, pegar a balsa com o Jim e pernas para que te quero… mas aí não teria enredo…
É muito interessante ver como o desejo pela liberdade move os seres humanos, independente da condição em que se encontram. Todos procuramos algum tipo de liberdade. Imagine a cabeça de alguém daquela época, principalmente de um menino criado da forma como Huckleberry foi… em diversas vezes ele se encontra em conflito entre entregar Jim ou não…
Mas fiquei feliz com o final, que definitivamente ninguém esperava - muito menos nosso protagonista! A senhorita Watson, ao morrer, tinha dado a liberdade ao Jim, sentindo-se culpada por ter cogitado vendê-lo. A dupla dinâmica não sabia disso, pois estava sem contato com os antigos conhecidos enquanto se metia em confusão rio abaixo.
Há diversas situações questionáveis, mas que ao lermos precisamos levar em conta a época e a sociedade que influenciou a criação desta obra literária.
Ao ler, tenha uma mente aberta, mas leia!
Mark Twain
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