“Til, romance de José de Alencar, foi publicado pela primeira vez em 1872 e pertence à fase regionalista do autor.
A personagem principal da obra é Berta, que é apelidada de Til. Ela é apresentada como símbolo da heroína romântica, sua beleza é enfatizada diversas vezes por José de Alencar, assim como sua compaixão e empatia com João Fera, o vilão da história.
Na época da produção de Til, José de Alencar, junto a outros artistas e escritores da época, buscava uma identidade nacional nas artes. Na literatura, Alencar buscou mostrar os valores nacionais, a exaltação desse sentimento convergente ao Romantismo, que trazia características como a valorização do passado, liberdade criadora, emoções, olhar subjetivo, espiritualidade, idealismo e individualismo.
Alencar, consciente da função social da literatura, buscou em seus romances traçar um retrato no tempo (romances indianistas e históricos) e no espaço (romances regionalistas e urbanos). Dessa forma, podemos dizer que ‘Til’, como um dos mais destacados romances regionalistas de Alencar, é um retrato do Brasil rural do século XIX.”
Editora: Livrarias Família Cristã
Autor: José de Alencar
Ano da 1ª publicação: 1872
Ano desta edição: 2021
Gênero: Romance Regionalista
Páginas: 205
Dividida em duas partes, o romance começa com a apresentação de quatro jovens, os personagens principais: os irmãos de criação - Berta (também chamada de “Inhá”) e Miguel - e os irmãos de sangue - Afonso e Linda. Além do que é apresentado como o vilão da história - João Fera (também chamado de Bugre), conhecemos a dinâmica da família principal e suas relações com a família de Miguel e com João Fera.
Luís Galvão é casado com Dona Ermelinda - esses são os pais de Afonso e Linda - e com eles mora o sobrinho, Brás, que é órfã. O menino é descrito como problemático, sempre realizando maldades com todos a sua volta - desde enfiar um garfo na perna de uma escrava até a colocar uma serpente na cama da prima. Já Miguel, afilhado de Luís, mora com a mãe viúva e com Berta, que é conhecida como “enjeitada” por ter sido abandonada pelos pais ainda bebê - e ninguém realmente sabe quem são.
Ao conhecer um pouco sobre o caráter e a história de Brás, entendemos o título da obra. O menino tinha dificuldades de aprendizado, e mal conseguia comunicar-se direito. Sempre recebendo punições severas de seu tutor, fugia da escola para se enfiar no mato. Em uma dessas fugas, Berta o encontra e, percebendo o que afligia a carente alma, decide ensinar para ele o alfabeto e a tabuada. Assim, ela se apelida de “til”, o sinal de que Brás mais gostava - desde então, ele só a chama assim.
A primeira parte da trama é voltada para as emboscadas que eram armadas por aquela região. Quem realizava o trabalho sujo era o capanga João Fera, temido por todos, era visto como um facínora por onde passava e fazia tremer os joelhos do povo. Berta era a única que não o via dessa forma. Descrita como o ideal romântico por Alencar, a jovem tem como característica principal sua beleza, encantos, gentileza e empatia.
Talvez seja por isso que os personagens mais macabros da narrativa sejam atraídos por ela - João Fera e o maldoso Brás - e que os jovens rapazes tentam cortejá-la - Afonso e Miguel. Ao descobrir que o Bugre planejava uma emboscada para o pai da melhor amiga, Berta corre para tentar impedir que a maldade se realize. João havia sido pago por um homem chamado Barroso para armar uma armadilha e matar Galvão. A menina chega a tempo e o impede de realizar a façanha.
Somos apresentados ainda a uma outra personagem, uma escrava chamada Zana, que mora em um casarão abandonado - outra pobre alma atraída por Berta. Lá, a “louca” realiza ações de maneira repetitiva, sempre finalizando com um semblante traumatizado e um grito de horror antes de desmaiar, a moça desconfiava que algo muito grave havia de ter acontecido para deixar aquela mulher sofredora em tal estado.
Na segunda parte da trama, conhecemos o passado: Besita era uma jovem muito formosa e encantadora, e todos os rapazes a queriam cortejar - inclusive Galvão. O problema é que a moça era de família pobre.
João Fera, naquela época apenas João, fora criado pela família de Luís Galvão a partir do momento em que apareceu nas terras deles ainda criança de colo. Depois de crescido, tornou-se camarada do amigo com quem havia vivido por tantos anos. Certo dia, passando em frente à casa de Besita, foi tomado por uma paixão avassaladora. Sabendo que nunca poderia tê-la, contentava-se em protegê-la e em auxiliar no relacionamento entre a menina e Luís.
Foi então que apareceu por aquelas terras um rapaz de nome Ribeiro, que também encantou-se por Besita e a pediu em casamento. Sabendo que Galvão nunca se casaria com ela por sua falta de posses, ela aceita o pedido do homem. Contudo, no dia seguinte do casamento, Ribeiro parte para longe em busca de uma herança que havia recebido, e por lá fica muito tempo.
Nesse meio tempo, Besita fica grávida ao ser enganada em uma noite e deitar-se com outro achando ser seu marido. E assim, nasce Berta. João Fera, que havia se revoltado com a infidelidade de Luís Galvão, rompe laços com o amigo e dedica sua vida a proteger Besita e Berta.
Viviam reclusos, até que certo dia, lembrando-se da esposa que havia deixado para trás ao receber a herança e desperdiçar sua juventude na farra, Ribeiro volta e encontra Besita embalando uma criança que não era dele. Desconfiado de traição, com olhos em fúria, ele a assassina a sague frio. Não fosse pelo Bugre, Berta também não teria sobrevivido àquela noite.
Revelado o mistério sobre os pais da personagem-título, a narrativa toma um novo rumo: Barroso é Ribeiro, que voltou - com um novo nome - para vingar-se de Luís Galvão. Vemos como João Fera tenta de todas as maneiras proteger Berta ao mesmo tempo em que tenta livrar-se de Ribeiro/Barroso.
Quanto aos jovens, sua trama implica os enlaces do amor: Afonso e Miguel a todo momento demonstram amar Berta, porém Linda é apaixonada por Miguel e confidencia tudo a sua amiga, que tenta a todo custo juntar o casal. Quando finalmente sucede em sua empreitada, percebe que desde o início era ela a apaixonada por Miguel, e havia perdido sua chance.
Com os segredos confessados, Miguel, Linda, Afonso e os pais - Ermelinda e Luís - partem de São Paulo, ficando Berta para consolar a mãe de criação (Nhá Tudinha) e cuidar das pobres almas dependentes dela - João Fera, Brás e Zana.
Grande representante do Romantismo, José de Alencar tem suas obras como marcos em diversas fases: indianista, histórica, regionalista e urbana. Nesse livro, a história se passa no interior São Paulo - sendo assim um grande representante do romance regionalista.
Particularmente, o Romantismo é a minha escola literária favorita e amo as obras de José de Alencar, porém - infelizmente - Til não conseguiu me cativar. Não sei se pela edição cheia de problemas ou se pela personagem-título, mas não consegui gostar desse livro.
A história tem um início bem confuso, demora um pouco para a narrativa e seus personagens se estabelecerem, o que atrapalhou um pouco o acompanhamento da progressão dos fatos e a entender a dinâmica entre os personagens principais e os problemas por eles enfrentados.
Essa é uma edição de texto integral e, por isso, diversas palavras antigas e clássicas permeiam o texto, misture isso a certas palavras escritas erradas, parágrafos cortados no meio simplesmente para continuarem em baixo como se fossem um novo parágrafo e letras maiúsculas onde não deveriam estar dessa forma e temos como resultado uma leitura bem complicada.
Confesso que em grande parte do tempo precisei reler várias vezes o mesmo parágrafo para compreender o que estava sendo dito, pois minha mente não conseguia se concentrar na narrativa.
Além disso, Berta é apresentada como uma mártir, não percebe em nenhum momento as tentativas óbvias de avanços de Afonso e Miguel e julga as atitudes de João Fera nos momentos em que ele tenta protegê-la (mesmo que às escondidas dela) sem nem mesmo questionar a causa das ações ou procurar saber as relações entre um fato e outro. Essa foi uma personagem que não conseguiu me conquistar.
Outra coisa que me incomodou muito foi a descrição de João Fera como o “vilão da história”. Essa foi uma narrativa em que, de verdade, não encontrei um único vilão. todos tinham seus problemas, todos cometeram erros, todos foram culpados pelas decisões erradas que tomaram e sofreram as consequências por isso. Eu diria que o grande vilão em Til foram as circunstâncias.
Por outro lado, é uma edição de capa dura - muito bonita por sinal - e ao final do livro apresenta questões de vestibular selecionadas e comentadas.
Se você se interessa por clássicos, recomendo a leitura deste, porém tenha um dicionário (mesmo que seja online) a mão para pesquisa de termos ultrapassados e tenha foco.
No mais, é uma ótima forma de compreender a necessidade de criar uma tradição literária brasileira e a valorização da natureza nativa, do escapismo, da vida no campo tão retratados na época.
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José de Alencar
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