Amor nas Entrelinhas

Você já parou para se perguntar o porquê de nós, seres humanos, sentirmos a necessidade de registrar momentos e acontecimentos importantes ou marcantes em nossas vidas?

Por que temos esse hábito? Esse ímpeto? Em que momento da história humana foi decidido a importância de criar registros para a posteridade?

Quem foi a primeira pessoa a escrever uma carta? E o que nela continha? Talvez um registro sobre o trabalho ou então um acordo comercial… talvez algo banal… talvez uma declaração de amor… ou ainda uma rejeição…

Para quem não sabe, cartas começaram a serem trocadas há 3.000 anos antes mesmo de Jesus Cristo nascer. Era o modo como as pessoas se comunicavam à longa distância, trocavam informações, registravam dados relevantes, deixavam para o futuro traços de um passado distante, por vezes feliz, por vezes triste.

Cartas; era assim que os apaixonados namoravam as escondidas (com o auxílio das flores - leia a resenha sobre “A Linguagem Sentimental das Flores”). A troca de bilhetinhos deixava por escrito todo o amor e devoção que um sentia pelo outro. Quando o obstáculo era muito grande, ainda poderiam publicar anonimamente - e em códigos - o que precisava ser dito.

Cartas; ajudaram os seres humanos de diversas formas no decorrer dos milênios; também causaram muitas confusões e desentendimentos. Um pequeno atraso, uma palavra borrada, uma hesitação, uma parte rasgada ou perdida para sempre.

Muitos relacionamentos começam com uma escrita. Muitos terminam com ela.

Amor, ciúmes, rejeição, tristezas, alegrias, ódio, orgulho, vergonha - por algum motivo os seres humanos sentem a necessidade de deixar as suas “pegadas” por aí. E quando as encontramos, relembramos, analisamos, aprendemos com elas.

Não só cartas, mas diários tiveram um papel importante no registro histórico das pessoas e suas vidas, incluindo os seus relacionamentos. Tudo aquilo que não foi dito, tudo aquilo que não pôde ser dito, são os diários que os guardam em segurança. Um método criado como forma, não só de deixar marcado os eventos relevantes para uma civilização, mas de extravasar de maneira mais “silenciosa” e sem receios tudo aquilo que se sente. Tudo aquilo que prendemos por algum motivo. Deixamos marcados os eventos relevantes de uma vida.

Experiências, pensamentos, emoções, segredos - podemos abrir nossos corações e mentes com sinceridade, sem pensar demais, sem inibições e sem medo de sermos criticados ou rechaçados por sermos quem somos e escrever o que escrevemos.

Com a evolução da tecnologia e da globalização, não é de se espantar que novos meios de escrita para expressar o que sentimos tenham surgido: e-mails, mensagens de texto, publicações em redes sociais, memes…

Tudo para que possamos colocar para fora o que já não cabe mais aqui dentro…

Amor nas Entrelinhas, como dito na sinopse, é uma coletânea organizada por Leandro Schulai que conta com a colaboração de diversos autores - alguns, na época, iniciantes. Publicado em 2014, seu objetivo era trazer contos - pequenas histórias - sobre o amor, suas causas e seus efeitos. Experiências humanas que ocorrem conosco, com nossos amigos e conhecidos, todos os dias e todas as horas.

Somando um total de 54 contos, essas histórias trazem marcas de alegrias e tristezas, amores e ódios, aceitações e rejeições, desentendimentos que ao final se resolveram e “eles viveram felizes para sempre”…, desentendimentos que não foram resolvidos e, por isso, repletos de arrependimentos, não tiveram finais tão felizes assim…

Não só as causas e efeitos do amor, mas suas consequências também são desenvolvidas nessas narrativas. O que acontece depois de uma decepção amorosa? Esses personagens definitivamente tiveram diversos tipos de reações. Alguns souberam superar, seguiram com suas vidas e encontraram algo melhor tanto no âmbito pessoal/profissional quanto no âmbito amoroso; já outros, sem um chão para se firmar, ficaram a mercê de seus sentimentos incontroláveis.

O que acontece depois de um início promissor? Alguns casais seguiram juntos, crescendo e aprendendo, encantando a todos com sua sabedoria e os inspirando; outros, devido às diversas curvas e caminhos que a vida segue, separaram-se por um motivo ou outro, de forma amigável ou com traumas e feridas a serem cicatrizadas.

Alguns amores, é possível observar através de seus próprios protagonistas -acompanhamos eles em sua jornada já sabendo de tudo o que está acontecendo -;enquanto outros, aprendemos sobre suas histórias junto com parentes próximos ou testemunhas - conforme eles desvendam os mistérios, vamos entendendo melhor oque aconteceu no passado do casal.

Algumas histórias são simples - o amor simplesmente acontece, fácil assim (como diria Hazel Grace: “Me apaixonei do mesmo jeito que alguém cai no sono: gradativamente e de repente, de uma hora para outra.”). Algumas histórias são complicadas, repletas de obstáculos, de outras pessoas querendo atrapalhar, de bagagens carregadas pelo casal que os pesa nos ombros e os atrasa, impedindo-os de concretizar o romance.

Alguns amores são para acontecer, alguns amores são para aprender e alguns amores são para esquecer.