“A obra conta a história de Sérgio, o narrador protagonista que recompõe o passado como forma de entender as próprias angústias. Nas lembranças de quando era aluno de um colégio interno, emergem as linhas de força que simbolizam a sociedade brasileira no Segundo Reinado.
O enredo foi inspirado na própria história do autor que, na juventude, esteve num colégio interno. Por causa disso, a obra é considerada um romance autobiográfico o qual revela o moralismo e o ambiente corrupto em que ele próprio viveu.
O livro não possui um enredo preenchido por acontecimentos inusitados, intrigas, ações, romances como seria de se esperar. O que acontece na narrativa são análises acerca dos alunos e da escola, críticas e impressões que são detalhadas no livro com características até mesmo científicas, ou psicológicas.
Sendo assim, apesar de ser enquadrado no movimento Realismo - Naturalismo, essa obra também possui traços do Expressionismo, Impressionismo, Simbolismo, dentre outros.”
Editora: Ediouro
Autor: Raul Pompéia
Ano da 1ª publicação: 1888
Ano desta edição: 1970
Gênero: Romance, Ficção
Páginas: 196
Quem não tem muitas histórias para contar da sua época de escola?
Enquanto alunos, aqueles momentos parecem nunca passar, o futuro parece nunca chegar. Eternamente estagnados naquele tempo presente, naquela vida de brincadeiras e folia. Mas, quando adultos, lembramos dessa época e de momentos com uma sensação de nostalgia, com saudades dos tempos bons e dos momentos de diversão com amigos os quais nem temos mais contato - apesar de terem chovido promessas de manter contato e realizar reuniões no último dia de aula.
Certamente houveram momentos ruins, assombrosos, que preferimos esquecer, mesmo que permaneçam lá atas na mente, suprimida por outras recordações por um motivo ou outro. O fato é que seja bom seja ruim, todos temos desventuras do tempo de escola, fofocas contadas pelo corredor, piadas que fizeram todos rir, professores divertidos e professores casca-grossa, trabalhos maravilhosos e aqueles chatos de fazer também, briga entre amigos, dissolução das panelinhas, reunião dos grupinhos no recreio e na saída…
São tantos momentos…
É tudo isso que Raul Pompéia traz em O Ateneu (Crônica de Saudades). Inspirado em seu próprio tempo de internato, ele fala sobre a vida escolar de Sérgio - o narrador personagem - e todos os seus pontos altos e baixos no decorrer dessa jornada em uma instituição que, bem claramente, é uma símile da sociedade da época.
O que rapazes, de todas as idades, fariam quando presos juntos dentro de um internato sem realmente poder sair, repletos de afazeres, com uma rotina rígida controlada pelos professores e, principalmente, pela mão de ferro do diretor: Aristarco?
O dono do Ateneu precisava manter as aparências, ainda que seus pupilos não fossem os prodígios que ele queria que fossem, ninguém poderia questionar sua autoridade e sua metodologia de ensino desenvolvida perfeitamente para os rapazes da elite, filhos de famílias ricas. É claro, havia um ou outro aluno bolsista, a sociedade precisava ver que no Ateneu todos tinham oportunidade, mas eles não eram realmente o foco do diretor.
Nesse jogo de sobrevivência acadêmica, entra Sérgio que, ainda criança, se encantou com uma apresentação feita pelos alunos do colégio. Não é surpresa quando o pai o leva para ser matriculado na mais prestigiosa instituição de ensino da região. O que o pequeno não sabe é que, lá dentro, é cada um por si.
Logo nas primeiras semanas de aula, Sérgio se aproxima de um colega que o explica o “funcionamento” da hierarquia estudantil: você deve ser corajoso, independente. O mínimo fraquejar pode ser a sua ruína social naquele lugar. Sérgio, infelizmente, não compreende o conselho e ao invés de se manter próximo daquele que demonstra ser uma boa companhia, decide aproximar-se de Sanches após esse salvá-lo de um afogamento.
Sanches aparenta inicialmente ser um camarada de estudos, porém, com o passar do tempo, vemos suas reais intenções para com o nosso protagonista. Depois de uma rejeição por parte de Sérgio, os dois passam a ter uma relação de inimizade profunda, Saches passa a usar de sua reputação para rebaixar cada vez mais o novato.
Desenvolveu um breve coleguismo com Franco - um dos alunos que desprezam o internato - e depois com Barreto um religioso fervoroso. Decide por fim ser independente, e sua altivez desperta a raiva de diversos outros colegas. Com a chegada de Nearco, um novo aluno, nosso protagonista demonstra interesse pela arte e pela leitura, acompanhamos ele nessa jornada prévia à amizade com Bento Alves - um aluno mais velho que trabalhava como bibliotecário.
No meio de todos esses desencontros, há um assassinato no internato por conta de Ângela, uma imigrante espanhola que despertara o amor em dois funcionários da instituição que, posteriormente, brigam por ela. Acompanhamos a descrição de passeios e brincadeiras, dos testes e das premiações, além das humilhações sofridas por aqueles alunos que não alcançavam conquistas relevantes ao ver dos professores e do diretor.
Há um estranhamento entre Sérgio e Bento Alves, este último o agride sem motivo aparente. Nesse meio tempo diversos alunos se rebelam contra a humilhação sofrida por Franco - que ao fim vem a falecer por conta dos maus-tratos sofridos. Sérgio encontra um amigo verdadeiro em Egbert, sem interesses. Já no final do ano letivo, os alunos se reúnem para mandar construir um busto de bronze de Aristarco - algo que o homem sempre desejara. No final da cerimônia o diretor percebe-se em uma competição com sua própria imagem.
A narrativa se encerra com o fim do próprio Ateneu, que é consumido pelas chamas de um fogo criminoso iniciado por um aluno recém-chegado, Américo. Tudo isso é acompanhado de longe pelo narrador personagem.
Inicialmente foi complicado acompanhar a narrativa de O Ateneu, por ser repleta de descrições - tanto do físico dos objetos, lugares e pessoas quanto das personalidades destes. Tantas divagações transformam a leitura em algo cansativo, fazendo com que minha mente se perca em pensamentos.
Foi uma verdadeira missão conseguir manter a concentração e o foco no enredo nos primeiros dias em que li a obra.
Sem contar que a versão que tenho é tão antiga, mas tão antiga que ela foi se desfazendo enquanto avançava na leitura. Agora, minha edição está em pedaços - que tentarei encadernar para preservar tal relíquia.
Mas, em suma, foi uma experiência diferente.
De fato, aqui não há reviravoltas, ações, mistérios a serem desvendados, romances apaixonantes nem nada do tipo. Tudo o que há é o dia a dia e as experiências de um aluno em um ambiente escolar desafiante que, aos poucos, amadurece e se afasta da família pela sua situação de interno, tornando-se cada vez mais independente.
Claramente compreende-se a crítica social feita por Pompéia.
Acompanhamos um Sérgio adulto lembrando-se dos momentos bons e ruins de sua época de aluno, as amizades feitas e desfeitas, as brigas, as conquistas e humilhações sofridas - não só por ele, mas por diversos outros colegas -, os castigos e as pegadinhas que rapazes faziam entre si.
É dito que Raul Pompéia inspirou-se em sua própria vida de estudante em internato para desenvolver essa narrativa. O quanto dos acontecimentos aqui narrados foram reais? Gostaria de saber se tais situações teriam realmente acontecido com ele, assim como sucederam ao Sérgio.
Um fato que me deixou confusa foi ao final da história, quando o Ateneu está pegando fogo e o personagem principal narra os acontecimentos durante tal evento, é revelado que D. Ema, esposa do diretor, havia desaparecido no meio da confusão (“Contavam que não se achava a senhora.”).
O que teria acontecido com ela? Teria ela fugido no meio da confusão? Ou teria perecido em meio as chamas que destruíram toda a riqueza de Aristarco?
Não nos é revelado.
Fica a reflexão para quem gosta de teorizar! Depois de lerem o livro, me digam: o que acham que aconteceu com ela?
Raul Pompéia
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