“Viajando por quase duzentos anos entre o Velho e o Novo Mundo, os manuscritos passaram por diversas mãos e sobreviveram até a um naufrágio. Mais do que os primeiros rascunhos do que viria a se tornar a obra de Charlotte, o material revela detalhes da vida de uma das famílias mais talentosas da literatura mundial.
Tudo teve início em 1810, quando Maria Branwell, que se tornaria mãe das famosas irmãs Brontë, obteve um livro, em sua terra natal. Dois anos depois, ela se mudou e o exemplar estava entre seus bens que naufragaram em um navio.
O livro foi recuperado intacto e tornou-se precioso para toda a Família Brontë, sendo não apenas uma fonte de leitura, mas também de anotação pelas irmãs Charlotte, Emily, Anne, seu irmão Branwell e seu pai, Patrick.
Em 1861, o livro foi vendido em um leilão depois da morte de toda a família. E, no anos seguintes, passou por diversos donos, eventualmente, viajando para a América, onde permaneceu em uma coleção particular até 2015.
Comprado pela Brontë Society, descobriu-se joias literárias e históricas escondidas entre suas páginas. Isso inclui anotações, esboços e dois textos nunca publicados de Charlotte Brontë.
Mas este trabalho vai além: especialistas foram convidados a examinar os documentos e apresentam muitas reflexões, incluindo uma sobre a inspiração de Emily Brontë para um dos maiores livros da história: O Morro dos Ventos Uivantes.”
Editora: Faro Editorial
Colaboradoras: Ann Dinsdale, Barbara Heritage, Emma Butcher, Sarah E. Maier e Ann-Marie Richardson
Ano da 1ª publicação: 2018
Ano desta edição: 2019
Gênero: Acadêmico
Páginas: 175
O quanto você acha que um livro pode influenciar os rumos que a vida de uma pessoa toma? Será que um simples livro pode alterar o curso da história? O quanto esse objeto pode adentrar na mente e no imaginário de uma família?
Essa obra é uma experiência única de conhecer, de maneira mais pessoal, oque transformou a família Brontë em uma das mais influentes dentro da literatura - e não estou falando apenas das famosas irmãs Brontë (Charlotte, Emily e Anne)… -. Para entendermos o que as afetou no curso de suas vidas de tal forma que transbordou em suas aclamadas obras - Jane Eyre, O Morro dos Ventos Uivantes e Agnes Grey, respectivamente -, precisamos entender primeiro a sua história e a sua família.
Trazendo análises de uma recente descoberta de manuscritos que nunca haviam sido publicados ou ao menos conhecidos pelo público e pelos estudiosos, esse livro apresenta cinco artigos escritos por pesquisadoras e especialistas da literatura brontëana. São eles: Perdido e Encontrado, de Ann Dinsdale (contando a história do exemplar de Maria Branwell, naufragado e recuperado das águas em 1812); A Arqueologia do livro, de Barbara Heritage (analisando o tal livro e sua influência na família Brontë); Uma visita a Haworth: unindo fantasia à realidade, de Emma Butcher (interpretando o conto recém descoberto de Charlotte Brontë); Cristais Partidos: rapazes, sede de sangue e beleza, de Sarah E. Maier (reexaminando a juvenília de Charlotte Brontë com um novo olhar a partir dos fragmentos encontrados); e Reinventando o Céu, de Ann-Marie Richardson (analisando a inspiração de Emily Brontë para a escrita de sua famosa obra a partir das anotações e desenhos encontrados no livro recuperado).
São cinco artigos de puro conhecimento adquirido quanto as criações de seus clássicos atemporais. Essas obras podem, hoje, serem lidas e interpretadas com novos olhos graças as descobertas realizadas e novos estudos desenvolvidos como achado desses manuscritos perdidos (em prosa e poesia) e do livro que teve forte influência durante todo o curso da vida dos irmãos Brontë.
Para sabermos o porquê da tamanha persuasão em suas jovens mentes, precisamos compreender que os Brontë ficaram órfãos de mãe muito cedo - a filha mais nova não tinha ainda nem 2 anos de vida quando a Srª Brontë faleceu devido a um câncer uterino. Com a perda da figura materna, sendo criados por uma tia rígida e com um pai emocionalmente distante, não é de se espantar que aquelas crianças tenham buscado refúgio no último resquício da presença de sua finada mãe: o livro que havia pertencido a ela quando ainda solteira.
O título dessa obra tão mencionada é The Remains of Henry Kirke White (editado por Robert Southey), e a história dele é uma sem igual. É engraçado como as vidas das pessoas se cruzam e dessa forma, não há como negar, nada acontece por acaso!
Maria Branwell, ainda solteira e morando em Penzance na Cornualha, adquiriu esse livro em 1810. O que ela não sabia é que seu futuro marido havia sido colega de universidade do poeta homenageado na obra, Henry Kirke White -falecido na tenra idade de 21 anos. Ao mudar-se para a casa de parentes em Yorkshire, ela conhece um clérigo, amigo de seu tio, Patrick Brontë. Os dois apaixonaram-se e cortejaram-se rapidamente. Maria, então, pediu para que enviassem certos pertences seus e, entre eles, estava incluso o estimado livro. Infelizmente, o navio que transportava o baú da jovem noiva encalhou na costa de Devonshire e grande parte dos itens foram perdidos para sempre. Dos objetos que foram salvos, estavam os dois volumes de The Remains.
O casal ficou em Hartshead e depois mudou-se para Hightown, para Thornton e, por fim, para Haworth. Contudo, nem sempre foram anos felizes para a família. Maria e Patrick Brontë tiveram ao todo 6 filhos - Maria (1814), Elizabeth(1815), Charlotte (1816), Branwell (1817), Emily (1818) e Anne (1820). Pouco tempo depois do nascimento da filha mais nova, Maria faleceu e sua irmã, Elizabeth Branwell, que havia viajado para cuidar da enferma, decidiu ficar e criar os sobrinhos.
Em 1824, as 4 meninas mais velhas foram mandadas para uma escola em Cowan Bridge - a mesma que inspirou Charlotte na ambientação inicial do romance Jane Eyre - e lá, viviam em condições sanitárias precárias. No ano seguinte, houve um surto de tuberculose e as duas filhas mais velhas, Maria e Elizabeth, voltaram para casa doentes. Elas morreram com poucas semanas de diferença. Charlotte e Emily não voltaram para essa escola depois disso.
Com tantas perdas ainda tão jovens, os quatro filhos sobreviventes mergulharam na imaginação incitada pelos livros da biblioteca de seu pai -principalmente o livro que havia sido de sua mãe.
No decorrer de suas vidas, Charlotte, Branwell, Emily, Anne e até mesmo o pai, leram e releram The Remains of Henry Kirke White, estimando tanto a presença da mãe quanto a presença do poeta que havia sido amigo de Patrick. Fizeram anotações, ilustrações, esboços, deixaram a sua marca registrada em suas páginas.
Durante a infância e adolescência, a brincadeira dos irmãos era usar a imaginação e escrever. Criaram juntos um universo com política, geografia, relacionamentos e conflitos - ideias surpreendentes para uma mente juvenil. A Cidade de Cristal tornou-se o refúgio desses jovens, e eles desenvolveram as narrativas e seus acontecimentos em colaboração mútua.
Com o tempo, por algum motivo ainda desconhecido, eles dividiram-se em duplas: Charlotte e Branwell, os mais velhos, escreviam sobre o reino de Angria enquanto Emily e Anne, as mais novas, escreviam sobre o reino de Gondal. Assim eles cresceram, em meio à imaginação e à escrita.
Em 1842, a tia Elizabeth Branwell faleceu por conta de obstrução intestinal, deixando uma herança para os sobrinhos. Em 1846, as irmãs Brontë utilizaram sua parte do dinheiro para financiarem uma publicação de poemas através dos pseudônimos Currer, Ellis e Acton Bell. Venderam apenas dois exemplares, mas receberam diversas críticas positivas, o que deu a elas o empurrão necessário para começarem a escrever seus romances.
Chalotte Brontë publicou Jane Eyre em 1847, sendo seguida dois meses depois por suas irmãs com O Morro dos Ventos Uivantes e Agnes Grey, respectivamente.
Branwell, o irmão das famosas escritoras, também era poeta e pintor, porém seu vício em álcool culminou em seu fim trágico - ele faleceu em 1848 após ficar meses bebendo demais. Emily pegou tuberculose e faleceu no mesmo ano, Anne a seguiu cinco meses depois (em 1849) ao sucumbir à mesma doença. Após tantos acontecimentos trágicos, uma luz de felicidade, Charlotte casou-se em1854 com Arthur Bell Nicholls, porém faleceu nos primeiros meses de gravidez em1855.
Patrick Brontë sobreviveu à morte da esposa e de todos os 6 filhos, vindo à falecer apenas em 1861. Com a sua morte, o viúvo de Charlotte pôs à venda diversos objetos da família Brontë, dentre eles estavam diversos livros -inclusive o Remains, que começou novamente sua aventura. A obra viajou por vários locais, passando por diversos estudiosos literários e colecionadores, indo de venda em venda e parando nos Estados Unidos - sendo descoberto apenas em 2015, na Califórnia.
Ao passar por tantas pessoas em mais de 150 anos, é claro que cada dono deixou sua marca de alguma forma. O surpreendente mesmo foi a descoberta nas páginas finais do livro de dois manuscritos: o rascunho de um conto e de um poema escritos por Charlotte e nunca vistos antes. Tais achados trazem uma nova luz à juvenília escrita pelos irmãos e à própria vida de sua autora.
Por fim, é importante lembrar que o último artigo dessa obra é voltado para Emily Brontë e como a perda da mãe e das irmãs mais velhas ainda criança, o exemplo dado pelo pai e por Charlotte ao deixarem suas marcas nos livros e um poema de Henry Kirke White presente no livro que pertenceu à mãe a influenciou na escrita de seu romance e na construção de seus personagens - Cathy e Heathcliff. Com essa análise, nota-se os traços da própria Emily e das pessoas aos seu redor em seus personagens e nos acontecimentos retratados; seus traumas, crenças e pensamentos permeiam toda a narrativa de forma extremamente pessoal.
Faço das palavras de Sarah E. Maier, as minhas!
Que privilégio é poder ter acesso à esses fragmentos e poder entender um pouco mais sobre essa família tão famosa e importante para a literatura inglesa.
Apenas imaginem… quantos fragmentos, rascunhos e esboços de escritores famosos não foram descartados ou perdidos com o passar do tempo? O quanto eles colocaram em suas palavras e histórias de suas próprias experiências?
Isso bate exatamente com o que eu estava conversando ontem (08/02/24) com os meus alunos de Literatura: precisamos entender os acontecimentos da época e da vida dos autores, pois só assim poderemos entender o porquê tal livro foi escrito de tal forma, o porquê tal personagem foi criado e construído, o porquê aquela narrativa foi desenvolvida… O porquê as coisas são do jeito que são e os autores se tornaram o que se tornaram.
Dessa forma, poderemos analisar as obras com o olhar daquela época e entendê-las com o olhar de hoje.
Com essa leitura, pude entender um pouco mais sobre as irmãs Brontë - principalmente Charlotte e Emily - e suas obras (e eu que não gostava de O Morro dos Ventos Uivantes, agora, entendo a narrativa de outra forma).
E se você se interessa por Literatura e, principalmente, pelas irmãs Brontë, fica essa recomendação!
Barbara Heritage
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