Crime e Castigo

Crime e Castigo é uma das obras mais célebres de Fiódor Dostoiévski, escrita entre 1865 e 1866 e publicada primeiramente em capítulos em revista, a história narra a vida do pobre estudante Raskolnikov, que em meio ao desespero de sua precária situação, bem como de suas queridas mãe e irmã, comete um crime hediondo: o duplo assassinato de uma velha usurária e sua irmã. Em meio a crises de consciência, a mente que tende a loucura mediante ao horror, tramas intricadas e a pobreza das ruas de São Petersburgo, acompanhamos o jovem estudante que luta para não enlouquecer de vez e busca redenção seja por meio de suas próprias teorias sobre grandes homens que têm o poder e o direito de transcender a lei ou através da fé e das pessoas que amam e zelam por ele. Um dos grandes marcos da literatura, Dostoiévski nos apresenta personagens marcantes e questionamentos profundos, válidos até os dias de hoje, mostrando que sua obra sempre será um clássico atemporal.”

Informações:

Editora: Pé da letra

Autor: Dostoiévski

Ano da 1ª publicação: 1866

Ano desta edição: 2021

Gênero: Romance psicológico, Ficção policial

Páginas: 544

“A vida havia entrado no lugar da teoria e algo bem diferente estava acontecendo em sua mente.”

Você já parou para pensar na Humanidade e nos grandes homens da história? Talvez sobre como eles ultrapassaram os limites entre a moralidade e os seus objetivos, e como seguiram em frente conquistando seus objetivos marcando, dessa forma, os seus nomes para toda a eternidade?

Pois Raskolnikov pensou, e muito!

Ele era apenas um estudante de direito, porém sua situação financeira não era das melhores. Seu passado era trágico, o pai havia morrido e só restaram suas pobres mãe e irmã, que viviam se desdobrando para ajudá-lo a pagar as contas de moradia e estudos. Elas duas viviam sozinhas em um vilarejo enquanto ele, na grande cidade de São Petersburgo - a grande capital imperial.

Raskolnikov era uma figura estranha: sempre taciturno, fechado, com a cara amarrada e de falar pouco, fizera poucos amigos na universidade (pensava na maioria como seus inferiores e pessoas com quem não deveria perder o seu tempo). Tinha um futuro promissor, seu intelecto não deixava ninguém negar isso. Certa vez escrevera um artigo sobre os homens e a teoria de que havia aqueles que poderiam passar por cima das leis, pois estavam destinados a grandes coisas - por outro lado, a grande maioria estaria sujeita a ser subordinada desses grandes homens e não poderiam transgredir as mesmas leis.

Com sua situação cada vez pior, o rapaz decide abandonar os estudos e se isola em seu pequeno quarto alugado. Sem dinheiro para pagar o aluguel e a comida, a senhoria deixa de alimentá-lo. Ele entra, então, em uma espécie de espiral, pensando seriamente em suas teorias e na aplicabilidade delas. Havia uma senhora, agiota, a quem as pessoas que precisavam de dinheiro procuravam para penhorar seus objetos de valor. O próprio Raskolnikov mais de uma vez fora até ela em busca de dinheiro em troca de seus antigos objetos. Ao escutar uma conversa entre outro jovem e um policial (sobre como a senhora possuía muito dinheiro escondido e que a morte dela seria um favor para a humanidade) ele começa a maturar tal ideia.

Com tudo planejado previamente, o rapaz vai até a casa da senhora quando sabia que não haveria ninguém e comete o ato hediondo. O que ele não esperava era que a irmã da senhora, Lizaveta, chegasse bem na hora - o que o assusta e faz com que ele a ataque também. Sua fuga foi por pura sorte, enquanto todos no prédio estavam distraídos ele escapa andando tranquilamente de volta para casa.

O ato estava concluído, ele havia assassinado duas pessoas e roubado os objetos de valor que conseguira encontrar. Porém, agora, sua consciência o torturaria por um longo tempo.

“Estamos acostumados a ter tudo pronto, a andar de muletas, a ter a comida mastigada para nós.”

A narrativa agora segue todo o conflito mental de Raskolnikov, sua consciência contra sua razão. A fé contra a racionalidade.

De todas as formas ele tentava justificar o que fizera, mas nem mesmo ele se convencia do que dizia. Seu humor começa a variar drasticamente com as pessoas a sua volta e sua saúde deteriora, sofrendo vários momentos de delírio e febre alta.

Com a chegada de sua mãe e sua irmã a São Petersburgo tudo piora. Raskolnikov descobre que sua irmã fora assediada pelo marido da dona da casa onde era governanta e que quando a esposa descobrira, fez um escândalo de forma que todo o vilarejo ficou sabendo do ocorrido - manchando o nome de Dúnia, sua irmã, que era inocente em toda a situação. Depois de um tempo considerável, a mulher descobriu a verdade e tentou reverter a situação da jovem, pedindo desculpas publicamente e arranjando um casamento para ela com um parente rico.

Dúnia aceitara o pedido sem consultar o irmão, que era o homem da casa na ausência do pai. Raskolnikov sabia que ela o fez apenas porque o pretendente era um homem rico e, apesar de não ser interesseira, ela o faria apenas para ajudar a sua mãe e irmão a melhorarem de vida. Revoltado com as atitudes do homem e querendo proteger a irmã de casar sem amor, o jovem deixa bem claro seu desagrado e reprovação, entrando em conflito com Dúnia. Ainda assim, algo contribui para que as coisas saiam do jeito que ele queria: seu amigo, Razumikhin se interessa pela moça - e pelo menos ele é confiável e verdadeiro em suas intenções. Logo ela começa a corresponder os sentimentos do estudante e, juntos, tentam ajudar Raskolnikov a voltar para saúde plena.

No meio de tudo isso ainda existia Sônia (ou Sófia), uma jovem que se entregara à prostituição para levar dinheiro para casa. Com um pai - funcionário do governo - bêbado, uma madrasta que sofria de tuberculose e 3 meio-irmãos pequenos, ela era a única esperança da família.

Raskolnikov e Sônia se conhecem por acaso. Ele conheceu o pai dela em um bar e, completamente fora de si, o homem contara toda a história da sua família para o ex-estudante que se compadeceu de sua situação miserável. Algum tempo depois, o rapaz o reencontra, contudo, em um momento trágico: o homem fora atropelado por uma carruagem. À beira da morte, ele é levado para casa, onde morre nos braços da filha. É quando os dois jovens se veem pela primeira vez. Dias depois quem parte é a madrasta, deixando as 3 crianças órfãs e sob a responsabilidade da irmã mais velha.

Não bastasse isso, mas o homem que assediou Dúnia no vilarejo chega também em São Petersburgo - após o falecimento da esposa - procurando pela irmã de Raskolnikov.

Tendo que lidar com todas essas situações familiares, seus sentimentos não compreendidos por Sônia, a investigação da polícia e a culpa pelo crime cometido, falta apenas um passo para o ex-estudante enlouquecer de vez. Comprovando, através de sua teoria, que - infelizmente - ele não é um desses grandes homens destinados à grandes coisas. Ele era apenas um homem comum, que devia viver uma vida comum, e agora teria que lidar com as consequências de seus atos entregando-se à polícia.

“Errar do seu próprio jeito é melhor do que ir direto no erro de outra pessoa.”

Ler Crime e Castigo é embarcar em uma viagem através da mente humana. Nas suas crenças e moralidade, teorias e racionalidade. Uma dicotomia intensa.

Raskolnikov é um personagem complexo, seus pensamentos são complexos e suas ações são por ele justificadas. Por grande parte da leitura tentei entender se ele estava tendo delírios, ataques psicóticos ou se sofria de bipolaridade ou transtorno dissociativo de identidade. Cheguei inclusive a pensar que talvez ele não tivesse cometido o crime, mas apenas presenciado e que tudo não passava de coisas inventadas pela sua própria mente perturbada.

É difícil entender como Dostoiévski teve a genialidade de desenvolver um personagem tão profundo. Não posso dizer que seu texto é complexo - de fato não é -, sua narrativa traz temas do cotidiano, críticas sociais fortes e sua linguagem e temática é tão atual que é como se a história se passasse nos dias de hoje.

É difícil pensar que essas questões sociais se mantém as mesmas desde o século XIX - se não pioraram.

Durante todo o tempo a perseguição da polícia e os amigos de Raskolnikov comentando sobre o caso me deixaram ansiosa para saber até que ponto ele ficaria se fazendo de indiferente ou se entregaria. Em vários momentos ele soltou pistas sobre o que tinha feito, mas ou os personagens não perceberam ou não queriam perceber.

Essa foi a minha primeira leitura de uma obra russa e preciso dizer que fiquei encantada com a profundidade a qual Dostoievski estava disposto a ir para prender o leitor na trama.

O crime está bem claro, o castigo não foi apenas o previsto pela lei, mas a própria consciência do assassino.

Uma ótima obra para refletir sobre a arrogância e o egoísmo do homem, sem falar sobre os seus vícios e pecados.

Será que uma alma de tal forma depravada tem capacidade para se regenerar? Só lendo para saber!

“O poder apenas se entrega a quem se atreve a inclinar-se e a apanhá-lo. Só é preciso uma coisa, só uma coisa: atrevimento para o fazer.”

Fiódor Dostoiévski

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