“Durante séculos, o coração humano parecia estar além de nossa compreensão: uma massa tremulante e inescrutável que de alguma forma conduzia as emoções e abrigava a alma. Como o cardiologista e autor de best-sellers Sandeep Jauhar demonstra em Coração, uma história, só recentemente conseguimos derrubar tabus milenares e criar procedimentos transformadores que mudaram o modo que vivemos.
Alternando primorosamente entre episódios históricos e de seu próprio trabalho, Jauhar mostra a exuberante e pouco conhecida história de médicos que arriscaram suas carreiras, e dos pacientes que arriscaram suas vidas, para conhecer e curar nosso órgão mais vital. Ele nos apresenta Daniel Hale Williams, médico afro-americano que realizou a primeira cirurgia de coração aberto na “Era Dourada”, em Chicago. Conhecemos C. Walton Lillehei, que conectou o sistema circulatório de um paciente ao de um doador saudável, abrindo caminho para a máquina coração-pulmão. E Wilson Greatbatch, que salvou milhões de vidas ao inventar - por acidente - o marca-passo.
Jauhar magistralmente entremeia histórias de descoberta, arrogância e sofrimento com relatos comoventes de doenças cardíacas de familiares e pacientes que tratou ao longo de muitos anos. Ele também confronta os limites da tecnologia médica, propondo que o progresso futuro depende mais de como escolhemos viver do que dos dispositivos que poderemos inventar. Emocionante, envolvente e com uma narrativa primorosa, Coração, uma história traz, em todo seu esplendor, o único órgão capa de se mover sozinho.”
Editora: Alta Life
Autor: Sandeep Jauhar
Ano da 1ª publicação: 2019
Ano desta edição: 2019
Gênero: Medicina, Memórias
Páginas: 258
Uma situação familiar pode moldar todo um futuro e uma carreira. Foi assim com Sandeep Jauhar. Com dois casos de morte por ataque cardíaco em sua família - seu avô paterno e o materno, respectivamente, e mais tarde sua própria mãe -, o estudo do funcionamento do coração e como curá-lo sempre esteve presente em seu cotidiano.
É sobre isso que trata o livro Coração, uma história, o autor (um cardiologista) conta o que motivou suas pesquisas e como diversos outros estudiosos e médicos contribuíram para que a medicina cardiológica evoluísse e salvasse a vida de milhares de pessoas. Trazendo analogias e conhecimentos antigos, Jauhar revela ao leitor como o coração era visto na Antiguidade: um órgão de função mística e espiritual, conhecido por guardar a alma do ser humano. É inegável que as emoções fazem parte do funcionamento do músculo cardíaco (quem nunca sofreu por um coração partido?), porém a forma como era praticamente intocável com certeza desencorajou muitas pessoas e contribuiu para que diversas outras nem ao menos tivessem a chance de lutar por mais um dia.
Alguns dos revolucionários trazidos à luz por Sandeep foram William Harvey - que descobriu como funcionava o sistema circulatório -, Ingi Edler e Carl Hellmuth - que inventaram o ecocardiograma -, Daniel Hale Williams e Ludwig Rehn - que realizaram as primeiras cirurgias de coração aberto -, C. Walton Lillehei - que foi pioneiro na invenção da máquina coração-pulmão -, John Heysham Gibbon Jr. e sua esposa, Mary Hopkinson - que avançaram com o desenvolvimento dessa mesma máquina -, Werner Forssmann - que, apesar de seus métodos nada ortodoxos, contribuiu de maneira ímpar para o desenvolvimento das técnicas de cateterismo -, o próprio Instituto Nacional do Coração (uma organização governamental) - que contribuiu ao fazer um estudo de caso na cidade de Framingham (Massachusetts).
Ainda: Mason Sones - que, com suas pesquisas e experimentos, contribuiu para o desenvolvimento da cirurgia de revascularização do miocárdio -, Charles Dotter - o primeiro a descrever a angioplastia e pioneiro na radiologia intervencionista -, Andreas Gruentzig - primeiro a desenvolver angioplastia com balão com sucesso para expandir lúmens de artérias estreitadas -, George Mines - que introduziu a câmera de imagem em movimento na fisiologia cardíaca e identificou o fenômeno de reentrada do coração (arritmia) -, Paul Zoll - que realizou estudos que viriam a culminar em novas invenções importantes para a cardiologia, como o marcapasso (desenvolvido pelo engenheiro elétrico Wilson Greatbatch) e o desfibrilador (tendo contribuições posteriores de outros médicos e pesquisadores como William Kouwenhoven, Guy Knickerbocker, Michel Mirowski e Morton Mower) -, Christiaan Barnard e Norman Shumway - que realizaram os primeiros transplantes de coração do mundo.
Além de Willem Kolff - que realizou a primeira substituição cardíaca usando um coração artificial em um animal - e Denton Cooley - que fez o mesmo em um ser humano -, e Bernard Lown - que realizou estudos sobre como o estresse traumático pode afetar e interferir no funcionamento do coração.
Todos esses médicos mencionados contribuíram de maneiras únicas para o avanço tecnológico dentro da medicina, além de alavancar os experimentos e as invenções que viriam para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e aumentar a expectativa de vida.
É triste afirmar que nem todos esses experimentos e tratamentos deram certo, muitas vidas foram perdidas no meio de uma cirurgia ou após a mesma por complicações. Foi chocante ler alguns relatos através da visão médica dessas situações, mas, de igual forma, importante para entender a relevância desses momentos para o futuro. Ainda assim, nem todos esses pioneiros foram vistos como tal em sua época, muitos foram tachados de loucos quando na verdade eram visionários. Poucos receberam os méritos por suas descobertas e invenções, a maioria não viveu o suficiente para ver os frutos de seus trabalhos.
Algo interessante a se relatar é que a grande parte desses cardiologistas vivenciaram situações de morte por ataques cardíacos na família ou eles próprios desenvolveram problemas no coração ao longo da vida - incluso o autor deste livro.
Não apenas são relatados as contribuições desses médicos, mas Sandeep Jauhar também narra momentos de sua própria carreira, fazendo paralelos com a história da medicina. Ele apresenta situações vivenciadas por ele mesmo e lembranças importantes de sua carreira acadêmica e profissional, trazendo ao final do livro o famoso 11 de setembro (o ataque às torres gêmeas e ao World Trade Center em Nova York, 2001), onde ele ajudou no atendimento de sobreviventes.
Ele traz um importante reconhecimento sobre como os sentimentos podem afetar o funcionamento do coração fazendo uma correlação com a analogia que havia sido apresentada no início do livro - o conhecimento grego sobre a função do coração (armazenar a alma humana e suas emoções).
Não apenas isso mas expõe um aprendizado significativo: para cuidar do coração também é preciso cuidar do corpo e da mente.
Essa leitura foi muito prazerosa e edificante, jamais pensei que poderia aprender tanto sobre o meu próprio coração ao ler um livro - estou falando no sentido físico.
É fato que para chegarmos às invenções que temos hoje muitas pessoas deram lágrimas, suor e sangue (nesse caso literalmente) para realizar descobertas e invenções inovadoras. Muitos foram perdidos pelo caminho, diversos outros não tiveram a chance de aproveitar as glórias, pois receberam seu reconhecimento tarde demais…
Mas nós do presente agradecemos aos sacrifícios do passado, pois agora temos uma chance de obter uma qualidade de vida melhor, podemos sonhar com um futuro promissor.
Jauhar acrescenta ao final de seu livro que atingimos um momento estagnado da medicina, poucas são as invenções de relevância nesses últimos anos. Particularmente, eu acredito que é preciso focar em aperfeiçoar as tecnologias já existentes e em pesquisar mais, aprofundar o conhecimento, pois o corpo humano é uma máquina maravilhosa e com certeza ainda possui muitos mistérios que devem ser desvendados.
Se você procura por uma leitura que traz aprendizado, enriquece sua bagagem intelectual ou tem interesse em medicina - especialmente cardiologia - essa obra é perfeita para você!
Inicialmente eu não dava nada por esse livro - confesso que comprei mais porque achei a capa bonita - mas afirmo, sem sombra de dúvidas: 10/10.
Sandeep Jauhar
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