“Enfim, seja por natureza ou por consequência de seu estado doentio, de vez em quando passavam pelos olhos daquela mulher lampejos de desejo, cuja expansão teria sido uma revelação do céu para aquele que ela amasse. Mas já se perdia a conta daqueles que haviam amado Marguerite, e aqueles que ela amou ainda não se podia contar.”

Editora: Pé da Letra
Autor: Alexandre Dumas Filho
Ano da 1ª publicação: 1848
Ano desta edição: 2023
Gênero: Romance
Páginas: 239
Em seu romance, Alexandre Dumas Filho retrata a infelicidade de um amor impossível de se concretizar - ainda que passando por pontos altos, os baixos acabam superando-os, e o final… é agridoce.
A história começa com um enterro - para você perceber a “vibe” do livro… A senhorita Marguerite Gautier fora uma cortesã que, vivendo uma vida de vícios, muito luxo e muitos amantes, morrera sozinha, cheia de dívidas e ainda na flor da idade (dá a entender que ela tinha por volta dos 20 anos). O narrador personagem observara a movimentação na casa e, sabendo que era o velório de uma bela moça que ele costumava admirar de longe todos os dias pela tarde no Champs-élysées, decidira entrar para saber mais sobre o triste fim daquela senhorita.
Com tantas dívidas acumuladas, quando se deu sua morte, seus credores decidiram “abrir sua casa ao público” para que possíveis compradores de seus antigos pertences pudessem ver o que estaria disponível e se preparar para o leilão que aconteceria poucos dias depois. Em sua visita, o narrador fica impressionado com tanta riqueza, tantas joias e presentes de antigos amantes que Marguerite possuía em sua coleção privada.
Quando o leilão enfim ocorre, por algum motivo mais forte do que sua própria vontade, o narrador decide comprar - por um valor bem alto, diga-se de passagem - um livro que contava a história de uma cortesã e seu amado (história essa que se assemelhava em muitas formas à da própria falecida). Os dias se passam e um jovem aparece na casa do narrador em busca daquele livro adquirido no leilão. Ele insiste em comprar pelo mesmo preço que o narrador havia pagado, mas este se recusa a receber e o presenteia com o objeto que, por algum motivo desconhecido, era tão querido para aquele rapaz.
Com um interesse particular na misteriosa vida de Marguerite Gautier, e tentando entender qual era a relação daquele estranho com a cortesã, o narrador vai até a casa do jovem que ele descobrira se chamar Armand Duval. Os dois iniciam uma longa palestra na qual o infeliz enamorado revela a sua história com a bela moça e seu triste fim.
A partir daí quem domina a narrativa é Armand. Ele conta que certo dia, enquanto caminhava pelo Champs-élysées, vira uma mulher belíssima passar em uma carruagem luxuosa. Ele se encanta à primeira vista com a beleza dela e decide que precisa conhecê-la, pois estava irrevogavelmente apaixonado. O primeiro encontro de fato entre os dois foi vergonhoso. Em um teatro, enquanto estava com seu amigo Gaston, Duval pede para ser apresentado à senhorita Gautier, mas - em uma crise de ciúmes devido ao fato de ela estar acompanhada de um outro homem - ele cria uma cena causando um vexame para si mesmo.
Ainda assim, com seu orgulho ferido e decepcionado pela posição social da moça, ele decide segui-la ao final da apresentação para ter certeza de que ela não se encontraria com nenhum outro homem. Depois dessa péssima primeira impressão, ele passa 2 anos longe de Paris e sem vê-la. Porém, quando retorna, bastou um olhar para sua paixão voltar a florescer.
Ele provoca um encontro novamente, contudo ela não o reconhece - fazendo com que ele precise relembrá-la da vergonha que passou. Armand se inteira dos acontecimentos daqueles 2 anos em que estivera longe e descobre que Marguerite está doente, em grande parte por conta da vida repleta de vícios que mantinha. Ele demonstra empatia para com o sofrimento dela e isso a deixa encantada. Logo ele revela seus sentimentos e, ainda que ela mantivesse outros amores, decide iniciar um relacionamento com a mesma.
Segue-se então uma sequência de acontecimentos no decorrer desse enlace: crises de ciúmes, momentos de paixão, gastos excessivos e a busca pela vida a dois que ambos tanto queriam. Marguerite queria abandonar aquela vida de cortesã, porém seus gastos garantiam que ela precisasse de alguém rico para sustentá-la - coisa que Armand não era. Ele começa a jogar para conseguir dinheiro rápido e fácil e mantê-la sempre satisfeita, para que não mais fosse buscar recursos financeiros na companhia de outros homens - entretanto, ao mesmo tempo, Gautier recusava-se a receber dinheiro do amado, pois não queria passar a impressão de que estava com ele apenas pela questão financeira, como cortesã. Ela verdadeiramente se apaixonara pelo jovem e queria demonstrar que seus sentimentos eram desinteressados.
Certo dia, porém, o pai de Armand fica sabendo sobre a vida que o filho levava e decide ir até Paris para colocar juízo na cabeça do rapaz - a fama daquele relacionamento se espalhara e começara a afetar a reputação da família, dificultando os acordo para o futuro casamento da irmã dele. O jovem enfrenta o pai e se mantém firme na resolução de permanecer ao lado da mulher amada e não deixar que ninguém os separasse, ignorando propriedade e status social.
Marguerite, todavia, começa a apresentar uma mudança de humor preocupante - chorando pelos cantos e tristonha. Tudo é explicado no terceiro dia da chegada do senhor Duval: a senhorita Gautier o abandonara para aceitar o cortejo de um conde. Armand sofre com esse duro golpe, o amor que acreditava ser verdadeiro não passou de uma ilusão, ela o enganara!
Com o apoio do pai, ele retorna para seu vilarejo e vive dias sombrios com o coração partido. Entretanto, retoma suas forças e decide retornar para Paris, agora com a ideia de vingança rondando pela cabeça - o amor virara ódio e, assim que viu Marguerite em sua carruagem luxuosa passeando pelo Champs-élysées com o conde, seu sangue ferveu. Ele arruma uma nova amante, Olympe, apenas para manter as aparências e seguir com seu plano de vingança. O que ele não sabia é que a saúde de sua amada estava se deteriorando, cada vez mais, agora que ela retornara com força total para a vida de vícios que seguia antes de conhecê-lo.
Em um último embate Armand decide partir de vez de Paris e segue em uma viagem acompanhando um amigo. Enquanto isso, Marguerite morria, sozinha, cheia de dívidas e com um arrependimento descomunal por ter abandonado o único homem que verdadeiramente a amara e ao qual ela correspondia profundamente.

Alerta de spoiler! O final não é feliz (mas isso não significa que é triste, é apenas real).
A leitura desse livro foi muito rápida - e só demorou mais, porque me segurei. Sabe quando você termina um livro e fica com gostinho de “e…? Acabou assim? Cadê o resto? O que aconteceu depois? Foi só isso?” Bem… foi assim que eu fiquei.
Isso não quer dizer que o livro é ruim, mas de verdade, achei que teria mais coisa, que seria relatado mais. Fiquei com muita pena do Armand… Ele sofreu tanto, esperou tanto para viver seu romance com Marguerite, teve que aguentar tanto, para no fim ser separado dela por forças externas.
Seu último resquício dela era o livro que o narrador comprara logo no início, durante o leilão (foi ele quem presenteou a jovem com a obra, retratando uma situação similar a vivenciada pelos dois).
Marguerite amou o rapaz, mas sua ganância era maior, ou ela simplesmente tinha se acostumado a uma vida de luxo e riqueza e de conseguir as coisas fácilmente e agora não queria abrir mão daquilo… mas ela gostava dele. A relação dos dois é meio dependente, e ainda assim interessante de observar seu desenvolvimento.
Representando a realidade nua e crua - e cruel - da época, Alexandre Dumas Filho deixou sua marca na Literatura Francesa Realista ao seguir os passos do pai (Alexandre Dumas), que também foi um escritor muito importante do período Romântico Francês - tendo obras como Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo em seu currículo.
Alexandre Dumas Filho

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